Título: Delegado é afastado de inquérito sobre Dantas
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/07/2008, Brasil, p. A7

O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, que comandava o inquérito que desencadeou a Operação Satiagraha, foi afastado ontem. Oficialmente, a PF informou que o delegado pediu para deixar o inquérito para comparecer às aulas presenciais de um curso de especialização da Academia Nacional de Polícia em Brasília, que tem início na próxima semana. Nos bastidores, porém, sabe-se que Protógenes estava sendo criticado pela cúpula da PF por não ter dado ciência da operação aos seus superiores e por ter recorrido a agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no curso da investigação.

O delegado, que trabalhou mais de um ano na investigação que levou à prisão do banqueiro Daniel Dantas por duas vezes, é próximo de Paulo Lacerda, diretor-geral da Abin, de quem recebeu a tarefa de investigar Dantas quando Lacerda ainda era diretor-geral da PF. Com o atual manda-chuva da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, a relação de Protógenes era bastante diferente, distante e fria.

Corrêa, que entrou em férias esta semana, fez duras críticas na semana passada ao pedido de ajuda à Abin, feita à revelia da direção da Polícia Federal. A auxiliares ele teria dito que também não se conformava com o fato de Protógenes suspeitar que seus superiores pudessem vazar as investigações para o grupo de Daniel Dantas.

O afastamento da presidência do inquérito foi acertada ontem em São Paulo, em uma reunião entre ele, Jáber Saadi (seu superior imediato) e Roberto Troncon Filho, diretor da Divisão de Combate ao Crime Organizado. O curso usado como argumento para o afastamento termina em 30 dias, mas a PF já informou que Protógenes não voltará à presidência do inquérito depois disso. A PF informou que os outros dois delegados que o assessoravam nas investigações, Carlos Eduardo Pellegrini Magro e Karina Murakami Souza, continuarão no caso, mas há informações de que eles também se afastarão do inquérito.

A PF negou ontem que o afastamento tenha qualquer relação com as trocas de farpas entre Protógenes e seus superiores ou se deva às críticas do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, que concedeu "habeas corpus" para liberar Dantas e outros 21 acusados na Operação Satiagraha, entre eles Naji Nahas e Celso Pitta.

O delegado Protógenes já participou de vários casos de grande repercussão no país, alguns deles em dobradinha com o juiz Fausto Martin de Sanctis, que determinou a prisão dos acusados na operação Satiagraha. Em 2005, prendeu o ex-governador Paulo Maluf, depois de o Ministério Público ter investigado as contas do político no exterior. Na época, Maluf foi acusado de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, juntamente com a mulher e quatro filhos. Dois doleiros também foram presos.

Outra investigação importante sob a coordenação de Protógenes foi a da parceria do Corinthians com o fundo de investimento MSI, que levou ao pedido de prisão do executivo Kia Joorabchian e do magnata russo Boris Berezovski. Ele foi ainda responsável pela operação que desencadeou a prisão em São Paulo de Law Kin Chon, considerado um dos maiores contrabandistas do país.