Título: PIB perde fôlego no governo Dilma
Autor: Pires, Luciano
Fonte: Correio Braziliense, 01/03/2011, Economia, p. 19

Apesar de ter registrado no ano passado o melhor desempenho desde 1986, a economia brasileira ainda está longe de ostentar taxas médias de crescimento tão expressivas quanto as do regime militar ou mesmo as de governos massacrados por inflação alta e baixo nível de emprego. Na semana em que o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne para definir a nova taxa básica de juros (Selic) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010, os especialistas se perguntam se o Brasil terá fôlego para, a partir deste ano, saltar de forma convincente em meio a repiques de preços e juros elevados.

No mercado, as desconfianças aumentaram nos últimos dias e já podem ser traduzidas em números. Diante das dificuldades do Palácio do Planalto em cortar gastos e garantir o poder de compra das famílias, bancos e consultorias revisam suas projeções. Parte dos analistas, que antes apostava em avanços de 4% a 4,5% do PIB em 2011, agora cogita 3,5% e até 3,2% de expansão. Tanto pessimismo tem relação com a piora do contexto internacional. As incertezas provocadas pelas revoltas populares no Oriente Médio e no norte da África, que afetam os preços do petróleo, e a escalada dos produtos agrícolas tendem a frear países desenvolvidos e emergentes.

Se as previsões mais conservadoras se confirmarem, o PIB brasileiro de 2010 fechou em 7,50% ¿ o dado oficial só será conhecido na quinta-feira. Com esse saldo, a era Luiz Inácio Lula da Silva apresenta média anual de 4,01%, quase o dobro da verificada ao longo dos oito anos de Fernando Henrique Cardoso (2,29%), mas aquém das apuradas durante os governos José Sarney (4,39%) e Itamar Franco (5,38%). Ainda que a taxa de investimento de quase 20% do PIB deixada por Lula seja uma alavança fundamental para o crescimento, não há garantias reais de que a presidente Dilma Rousseff elevará o desempenho médio da economia nos próximos anos. Uma das razões está na taxa de juros.

Não é mais consenso entre os economistas que o Copom elevará a Selic em 0,5 ponto percentual na reunião que começa hoje e termina amanhã. Os relatórios mais recentes produzidos pelas principais instituições financeiras indicam, com frequência, que o ajuste poderá ser de 0,75 ponto percentual. A taxa básica está em 11,25% ao ano. Caso se concretize, a mão pesada do Banco Central sobre os juros coloca ainda mais obstáculos à frente do crescimento de 2011, embora o ministro da Fazenda, Guido Mantega, faça questão de alardear que o país encerrará o ano com pelo menos 5% de expansão.

Se optar pelo gradualismo, o BC elevará a Selic em 0,5 ponto e indicará um período longo de ajuste. Se, ao contrário, optar por ser direta e objetiva, a autoridade monetária abrirá caminho para que o aperto seja mais rápido e pesado do que se imaginava antes. O setor produtivo está atento. A indústria e o setor de serviços dão como certa uma desaceleração em patamares mais acentuados a partir deste primeiro trimestre. No front político, alas do PT questionam nos bastidores a condução da política econômica baseada em juros altos e em enxugamento de despesas voltadas ao investimento público.

O resultado de cada presidente

Desempenho da economia brasileira desde a década de 1960

Governo - Período - Média anual (em %) Regime militar - 1964-1984 - 6,29 Sarney - 1985-1989 - 4,39 Collor - 1990-1992 - -1,29 Itamar - 1993-1994 - 5,38 FHC - 1995-2002 - 2,29 Lula* - 2003-2010 - 4,01

* Considerando a expectativa de expansão de 7,50% em 2010

Fonte: Banco Central