Título: OMC pede apoio a vítimas da globalização
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Fonte: Valor Econômico, 16/07/2008, Internacional, p. A11

Num momento em que as principais economias desenvolvidas do mundo estão em forte desaceleração, o que abre espaço para reivindicações protecionistas, a Organização Mundial do Comércio (OMC) reconheceu que há necessidade de melhorar o nível de vida daqueles "excluídos e deixados para trás" pela globalização.

A instituição afirmou, n apresentação de seu relatório anual sobre a situação do comércio mundial, que "os benefícios da maior integração e da interdependência não alcançaram todos" e pediu "políticas específicas" para os trabalhadores mais pobres, afetados de modo negativo pela expansão do comércio mundial.

O relatório, divulgado ontem, "coloca a discussão do comércio em um contexto maior da globalização". Apesar da admissão de que muitos foram "deixados para trás", o texto "reafirma a significativa contribuição que a globalização e o comércio tiveram na melhoria das vidas de milhões de pessoas em todo o mundo".

O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, pediu "políticas específicas" para os trabalhadores mais pobres e mesmo para os de nível médio. Entre essas políticas, ele destaca a recapacitação dos afetados pela terceirização e pela mudança de empresas para países cuja mão-de-obra é mais barata. "Embora o comércio tenha ajudado a reduzir a pobreza em todo o mundo, algumas famílias pobres foram afetadas de modo negativo", disse Lamy, no texto de apresentação do estudo.

Para o diretor-geral da OMC, "os pobres são particularmente vulneráveis", mas mesmo assim ele defende que é preciso acelerar a expansão do comércio e pediu por avanços na Rodada Doha. Em entrevista após a divulgação do relatório, Lamy disse temer que um fracasso da Rodada Doha traga ainda mais "nuvens negras" para a economia mundial. "Apelo para que todos os governos se unam diante do cenário negro para a economia e que isso se traduza na conclusão da Rodada Doha", disse.

Para Michael Finger, economista da OMC, a queda nas economias dos países ricos está sendo "pronunciada". Um dos efeitos seria a menor importação e um aumento nas exportações. "Por isso é que o melhor seguro contra o protecionismo é a conclusão das negociações [da OMC]", afirmou Lamy. "As nuvens negras que existem hoje no cenário internacional não são causadas pelo comércio. Mas a conclusão da Rodada seria um sinal político importante. Não vai tirar as nuvens negras do caminho. Mas se não concluirmos as negociações, vamos adicionar mais uma nuvem no horizonte", alertou.

Ministros de cerca de 30 países se reúnem na semana que vem em Genebra na tentativa de superar as divergências na negociação multilateral da Rodada de Doha, lançada em 2001.

Na semana passada, mediadores da OMC apresentaram novas propostas para as áreas mais complicadas, do comércio agrícola e industrial. De acordo com eles, as novas versões reduzem as opções à disposição dos ministros, já que as recentes negociações reduziram as divergências a respeito de questões técnicas.

Dados internos da OMC estimam que o Brasil poderia ser bastante beneficiado de um acordo na Rodada Doha. Os estudos apontam que um eventual acordo na entidade na próxima semana irá gerar ganhos de no máximo 1% do PIB à economia mundial, ou US$ 50 bilhões por ano. Brasil, China e Índia ficariam com um terço desses ganhos.