Título: Toyota ratifica retomada de São Paulo como pólo automotivo
Autor: Olmos , Marli
Fonte: Valor Econômico, 16/07/2008, Empresas, p. B1
Uma década depois da última onda de investimentos da indústria automotiva, que aderiu à guerra fiscal patrocinada por governos estaduais, e ajudou o Brasil a descentralizar a produção industrial, um novo ciclo de projetos do setor volta a dar preferência a São Paulo. A retomada dos investimentos no Estado ganhou ontem oficialmente a adesão da Toyota, que anunciou que sua segunda fábrica no país ficará em Sorocaba, a 100 km da capital. De fornecedores de peças a transportadores, que penam para atender um modelo de produção que só funciona se não houver falhas, todos respiraram aliviados.
Quando decidiram erguer novas fábricas no Brasil, em meados da década de 90, todas as montadoras - tanto as que estavam no país desde a década de 50 como as novas marcas, caso das francesas - não resistiram à sedução dos incentivos fiscais, que generosamente pipocaram por por todo o país.
Agora, com orçamentos mais minguados, os governos estaduais perderam a força para oferecer incentivos na nova onda de investimentos para atender ao aumento de demanda no mercado doméstico. Sem a guerra fiscal, os atributos naturais de São Paulo despontaram: o Estado concentra a maior parte dos compradores de automóveis, a maior parte dos fabricantes de autopeças e mão-de-obra qualificada. E um fato primordial - as relações com os sindicatos dos metalúrgicos, principalmente no ABC, que outrora espantavam as empresas, ganharam um tom muito mais cordial.
Mesmo assim, o Estado de São Paulo teve de vencer o apetite da Bahia por novas fábricas. Ontem, após a confirmação da Toyota, o governo baiano divulgou nota afirmando que por mais de um ano de trabalho sua equipe técnica elaborou "uma proposta atraente o bastante para manter a Bahia na disputa com São Paulo".
A nova fase de namoro da indústria automobilística com São Paulo começou com a Volkswagen . A alemã decidiu injetar recursos na fábrica de São Bernardo do Campo depois de uma dura reestruturação que quase decretou o fechamento da unidade. Depois veio a Ford, que inaugurou uma fábrica moderna na Bahia em 2001. No ano passado, a marca optou por ampliar as instalações de uma velha unidade em São Bernardo para produzir o novo Ka.
No início deste mês, a General Motors, que ergueu uma fábrica no Rio Grande do Sul em 2000, anunciou investimentos em São José dos Campos, no interior paulista, para o projeto de um novo automóvel. Ao saber ontem da escolha da Toyota pela cidade de Sorocaba para construir uma grande fábrica em 2011, o presidente da GM do Brasil, Jaime Ardila, disse: "Não sei quais as razões que levaram a Toyota a escolher São Paulo, mas o que é claro para mim é que as vantagens logísticas são significativas".
Hoje, o governo paulista oferece uma vantagem que interessa muito às montadoras: a possibilidade de utilizar os créditos de ICMS na exportação para investimentos no Estado . Volks, GM e Ford já usaram esses recursos.
Mas a questão logística pesa. Com fábricas no interior de São Paulo, ABC e Minas Gerais, a direção da TRW , uma das maiores fornecedoras das montadoras, diz conseguir suprir os principais pólos de produção de veículos. "Na produção de veículos pesam dois fatores importantes - manufatura e logística", diz o diretor da TRW, Wilson Rocha. A manufatura, afirma, depende uma ampla rede de sub-fornecedores (os fabricantes das peças menores) para os grandes fornecedores das montadoras.
As montadoras que escolheram Rio e Bahia para instalar novas fábricas tentam até hoje atrair fornecedores para perto de suas linhas. Muitos foram. Mas a atividade nesses locais se concentra muito mais na montagem dos conjuntos do que na manufatura. A exceção bem-sucedida do setor fica com a Fiat, que conseguiu atrair para o entorno de Betim (MG) uma ampla base de fornecimento. Acabou formando mais um pólo importante. Os grandes volumes da Fiat compensam investimentos das autopeças, ao contrário de operações menores, como as de Peugeot e Citroën, em Porto Real (RJ).
Os transportadores de peças reforçam a questão logística. A transportadora Grande ABC, um dos prestadores de serviços da Toyota, aponta, sobretudo as vantagens do interior do Estado. E considera as operações na região de Campinas, Sorocaba, Vinhedo e Americana, como as mais rentáveis do Estado, pelo fato de não ter de atravessar o trânsito da capital.
"Se tiver de passar pela cidade de São Paulo, tenho de utilizar mais caminhões", constata Antonio Caetano, presidente da Grande ABC. Segundo ele, se a Toyota optasse por algum município do ABC, por exemplo, uma remessa do interior para a fábrica poderia demandar o dobro de veículos que seriam utilizados para entregar em Sorocaba. "Os fornecedores estão no interior", acrescenta Caetano.
Na Ceva Logística a opinião é a mesma. Ricardo Melchior, diretor de operações da empresa, estima uma perda de produtividade de seus caminhões em torno de 15% ao transitar por São Paulo. Além disso, o executivo acredita que o aeroporto internacional de Viracopos e rodovias intermediárias, como a do Açúcar e a Dom Pedro, são determinantes na escolha de um novo local de produção.
Outro exemplo recente em que a logística prevaleceu na decisão de investimento vem da Brembo, fabricante italiana de sistemas de freios. Na semana passada, a empresa anunciou que irá construir uma nova fábrica no Estado de São Paulo. O investimento previsto varia de R$ 60 milhões a R$ 100 milhões e a unidade vai ser instalada a uma distância de no máximo 150 quilômetros da capital. Na ocasião, Daniel de Oliveira, diretor comercial da Brembo no país, ressaltou o fato de seus fornecedores de materiais também estarem instalados na região.