Título: Brasil atrai mais certificadoras de hospitais e clínicas
Autor: Campassi , Roberta
Fonte: Valor Econômico, 16/07/2008, Empresas, p. B4

Uma boa reputação em qualidade de tratamento é, sem dúvida, o maior ativo de empresas e instituições de saúde. Por causa disso, diversos "selos" surgiram no mundo todo para atestar a qualidade de atendimento - de forma simplista, equivalem às certificações ISO que se propagaram na indústria. No Brasil, à medida que hospitais, laboratórios e clínicas enfrentam ambientes mais competitivos, cresce a busca por credenciamentos e novos selos chegam ao país.

Desde o início deste ano, o processo de credenciamento canadense está disponível no Brasil. Ele foi trazido pelo consulado do Canadá e é aplicado pela IQG, empresa de certificação especializada em saúde. Há cerca de um mês, a norueguesa DNV também começou a prospectar clientes brasileiros para um novo selo que está em fase final de registro nos Estados Unidos, o National Integrated Accreditaion for Healthcare Organizations (Niaho). Os novos credenciamentos são alternativas aos que já existem por aqui: o americano Joint Comission, ao qual alguns dos hospitais mais renomados do país estão vinculados; e o ONA, que foi criado em território nacional e reúne o maior número de credenciados.

A quantidade de empresas de saúde brasileiras que levam algum desses selos ainda é pequena, mas crescente. Há cerca de 100 hospitais credenciados, dentro de um universo de 7.155, entre públicos e privados, conforme levantamento da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp). Outros 230 estão em alguma fase do processo de credenciamento. Existem, ainda, pelo menos duas centenas de clínicas, laboratórios e outros serviços de saúde credenciados.

No caso da IQG, que representa o selo do Canadá e também é a maior certificadora do ONA (com 80% do mercado), o número de credenciamentos subiu de 14, em 2004, para 56, em 2007. Por sua vez, o Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), que representa a Joint Comission, captou quatro projetos novos em 2006 e 13 em 2007. Neste ano, até junho, já contabiliza mais 13.

"No Brasil, o aumento ainda não é explosivo, mas consistente", afirma Rubens Covello, sócio da IQG. "No caso do credenciamento canadense, nossa meta era ter doze novos projetos até o fim do ano e já estamos com 14", diz. Quatro hospitais fizeram parte de um projeto piloto e já estão credenciados.

Segundo Heleno Costa Jr., coordenador de educação do CBA, a meta para o Brasil é credenciar cerca de 1,4 mil instituições de saúde pela Joint Comission nos próximos cinco anos. Segundo ele, a estratégia é preparar, ao mesmo tempo, hospitais e instituições que estejam ligados a sindicatos e associações, além de aumentar o número de credenciados na região Nordeste.

Há um conjunto de razões por que um hospital busca esses atestados de qualidade. Em primeiro lugar, eles estabelecem procedimentos padrões que visam elevar a qualidade do tratamento e a segurança do paciente. "Cria-se um protocolo que disciplina, organiza e mensura o atendimento médico", diz Celso Skrabe, presidente da Associação Brasileira de Marketing em Saúde (ABMS). Para o Hospital Samaritano, houve reduções percentuais de dois dígitos no número de infecções, complicações e incidentes desde que a instituição se credenciou com a Joint Comission, em 2004. "O tempo de atenção aos pacientes subiu 14%", afirma Sérgio Lopez Bento, superintendente de operações.

"Além da segurança, o hospital credenciado ganha uma vantagem de marketing porque se destaca dos concorrentes", diz Skrabe. Segundo ele, os hospitais paulistanos já estão disputando pacientes entre si porque existe uma superoferta. "Só nós últimos três anos, 1,5 mil leitos de alto padrão foram inaugurados na cidade", diz. Segundo pesquisa do selo canadense, cerca de 30% das entidades credenciadas apontam que a principal vantagem obtida é a padronização de procedimentos médicos e a conquista de participação de mercado. Outros benefícios são a melhora da relação com o cliente e a melhora do resultado financeiro.

Outro estímulo para o credenciamento em saúde, mais curioso, é a possibilidade de participar do "turismo médico", movimento crescente em país emergentes com destaque para a Índia. Com o selo de qualidade, hospitais e clínicas podem conquistar a confiança de médicos estrangeiros que encaminham seus pacientes para tratamentos em países mais baratos. É principalmente com esse argumento que a DNV quer credenciar hospitais no Brasil com o selo Nihao. "A diferença cambial estimula que estrangeiros se tratem no Brasil, além de sermos referência em cirurgia plástica e ortopédica", diz Otilio Ferreira Filho, diretor comercial da DNV no Brasil.

A opinião corrente, porém, é que ainda falta um estímulo importante para o credenciamento. "O maior estímulo seria um pagamento maior de operadoras de planos ou do governo para os hospitais credenciados", diz José Antônio de Lima, presidente da Anahp. Segundo ele, algumas operadoras estão se organizando para ter remunerações diferentes conforme o prestador, mas o movimento é incipiente. A Amil é uma delas.