Título: Preços agrícolas no atacado têm alta forte e fazem IGP-10 subir 2%
Autor: Rosas , Rafael
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2008, Brasil, p. A2
A inflação medida pelo Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) alcançou 2% em julho, nível mais elevado desde os 2,42% de fevereiro de 2003, impulsionado pela disparada dos produtos agrícolas no atacado, que subiram 4,66%. Os grandes responsáveis pelo aumento foram a soja, o milho e os bovinos. O IGP-10 de julho mostra a evolução dos preços entre o dia 11 de junho e 10 deste mês.
Apesar do avanço superior ao 1,96% registrado em junho, o coordenador de análises econômicas do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, disse que o indicador manteve a tendência de desaceleração, uma vez que produtos com peso de 85% no índice registraram elevações menores no IGP-10 de julho do que o do mês anterior. Os preços ao consumidor, por exemplo, tiveram alta de 0,65%, uma queda significativa em relação ao 0,93% de junho. O custo na construção também mostrou desaceleração significativa, de 2,66% para 1,5%.
"Há um movimento de desaceleração dos IGPs, mas existe também uma pressão agrícola, notadamente da soja, do milho e dos bovinos. Esse núcleo de 15% do IGP esteve incendiário em julho", ressaltou Quadros, acrescentando que a alta de 4,66% dos preços agrícolas no atacado foi a maior para o grupo desde os 5,78% de dezembro do ano passado. No IGP-10 de julho, a soja subiu 12,88%, o milho, 6,93%, e os bovinos, 11,15%. O aumento dos preços agrícolas no atacado impressiona - 39,69% em 12 meses.
As altas da soja e do milho são explicadas pelas enchentes no meio-oeste dos Estados Unidos, que afetaram as lavouras dos dois produtos. Já os bovinos sofrem os efeitos dos preços baixos registrados há cerca de dois anos, o que, segundo Quadros, levou ao abate de matrizes com o objetivo de aumentar a rentabilidade dos produtores.
Esse abate antes da hora levou à falta de bovinos no mercado nacional. Quadros explicou que a alta no atacado não foi maior porque outros produtos agrícolas e algumas matérias-primas contribuíram para segurar os preços. O arroz em casca, por exemplo, caiu 4,31% em julho, depois de subir 13,22% em junho.
Os preços industriais no atacado, por sua vez, tiveram um comportamento mais positivo, mas continuam a registrar altas salgadas. Em julho, subiram 1,71%, menos que os 2,06% do mês anterior. O aço semi-acabado ao carbono aumentou 14,51%. Já o minério de ferro contribuiu para a perda de fôlego do IPA industrial: recuou 1,01%, depois de subir 11,29% em junho.
Em 12 meses, os preços industriais no atacado registraram elevação de 12,08%. Nesse cenário, continua elevado o risco de que os aumentos de custos sejam repassados para outras etapas da cadeira de produção nos próximos meses, afirmou o economista Adriano Lopes, do Unibanco. "Os novos números indicam que os riscos de inflação ainda são elevados e que ainda é cedo para otimismo", completou ele, em relatório.
Lopes nota, porém, uma melhora nos índices de preços ao consumidor. No caso do IGP-10, o IPC mostrou uma forte desaceleração em relação a junho. Os alimentos ainda tiveram alta significativa, de 1,56%, mas bem menos acentuada que os 2,4% do mês anterior. Os legumes e hortaliças caíram 1,42%, depois de alta de 10,28% em junho. O tomate passou de uma variação de 11,09% para um aumento modesto de 0,13%. No total, as hortaliças e legumes contribuíram com 0,37 ponto percentual de desaceleração dentro do Índice de Preços ao Consumidor (IPC). A alta do grupo saúde e cuidados pessoais passou de 0,72% em junho para 0,56% em julho.
Divulgado ontem, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) também mostrou desaceleração. O indicador, que mede a inflação nos 30 dias encerrados em 15 de julho, subiu 0,69%, menos que 0,79% do IPC-S anterior.
Voltando para o IGP-10, também houve alívio no custo da construção. O grupo mão-de-obra, que havia subido 3,69% em junho, teve aumento de 1,4% em julho. Já o grupo materiais e serviços subiu 1,59%, um pouco abaixo do 1,76% registrado no mês anterior. (Do Valor Online)