Título: Exportação da Líbia está parada
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Fonte: Correio Braziliense, 01/03/2011, Economia, p. 20

Londres ¿ Os embarques de petróleo a partir da Líbia sofreram um grande baque ontem. Além do recuo da produção, devido aos conflitos naquele país, onde a população tenta derrubar o ditador Muamar Kadafi, o mau tempo impediu o transporte marítimo. O campo de Hamada está parado e os poços de Sarir, Nafoora e Misla, no leste do país, estão produzindo metade da capacidade normal. Segundo fontes do setor naval, tempestades no Mediterrâneo impediram que ao menos quatro tanqueiros que transportam 2,4 milhões de barris de petróleo fossem carregados ou zarparam de portos líbios.

Forças de Kadafi vêm tentando há dias conter um levante que teve adesão de grande parte do exército líbio e que pôs fim ao controle do governo em boa parte daquele país. Os conflitos levaram o preço do barril a roçarem nos US$ 120 na semana passada. Mas a garantia da Arábia Saudita, principal exportador de petróleo mundial, de compensar o recuo na produção da Líbia acabou ajudando a reverter os exageros do mercado. Em um comunicado, o governo saudita, reunido pela primeira vez sob a presidência do rei Abdullah desde que ele voltou ao país na semana passada, reiterou a sua ¿política constante de garantir a estabilidade do mercado petroleiro e de manter os abastecimentos¿.

O resultado disso foi uma segunda-feira mais tranquila. Tanto que o petróleo encerrou os negócios em baixa (apesar de, no mês, ter tido forte alta). Em Nova York, a cotação do barril computou queda de quase 1%. No acumulado de fevereiro, a valorização chegou a 5%. O contrato para entrega de petróleo em abril cravou U$ 96,97.

Dólar desaba Com a recente alta do petróleo e as incertezas que rondam os maiores produtores, o dólar atingiu ontem o menor valor em três meses. Há o temor de que, com o encarecimento dos combustíveis, os Estados Unidos injetem ainda mais recursos no mercado, contrastando com um tom de aperto monetário no exterior. A divisa norte-americana caiu 0,5% em relação a uma cesta de moedas.

Segundo os especialistas, ao contrário de crises anteriores, os investidores não estão procurando proteção no dólar, mas direcionando recursos para o iene e para o franco-suíço. ¿A alta do petróleo ajudou a ampliar as desconfianças em relação aos Estados Unidos¿, disse Lee Hardman, analista de câmbio do BTM-UFJ. Ele não descarta uma disparada das cotações do euro e de outras moedas a curto prazo.

Em Milão, o maior banco italiano, o UniCredit, que tem o Banco Central da Líbia como um de seus maiores acionistas, informou que está acompanhando de perto a situação no país árabe depois das sanções adotadas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Os maiores investimentos da Líbia na Itália estão no UniCredit. No fim de 2008, em plena crise financeira mundial, o BC líbio arrematou 4% do banco italiano, que se encontrava em uma situação difícil. No ano passado, com a entrada do fundo soberano Libyan Investment Authority (2,59%), a Líbia virou o maior acionista do UniCredit, com 7,58%.

Mercado fechado A Bolsa de Valores de Túnis suspendeu ontem suas operações ¿a fim de proteger as economias da população investidas em títulos¿, medida que refletiu a instabilidade que continua dominando a Tunísia desde a rebelião que depôs o ditador Zine al Abidine Ben Ali, em janeiro.

Bolsas operam em alta Cristiane Bonfanti Confiantes na possibilidade de estabilização dos problemas políticos na Líbia e da melhoria na produção e distribuição do petróleo no mundo, as principais bolsas de valores apresentaram leva alta ontem. O Ibovespa, principal termômetro dos negócios da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), sofreu oscilações ao longo do dia, abalado também pela notícia de um orçamento menor para o programa Minha Casa, Minha Vida. Mas, no fim do pregão, e apesar da queda das ações da Petrobras, a bolsa fechou em alta de 0,72%, aos 67.383 pontos, com giro financeiro de R$ 8,15 bilhões.

Com o resultado de ontem, o índice do mês fechou fevereiro com alta de 1,22%. No ano, o Ibovespa acumula perda de 2,77%. Ontem, o Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, também reagiu bem às notícias do mundo árabe e avançou 0,79%.

O diretor da Trader Brasil Escola de Investidores, Alan Soares, explicou que a possibilidade de uma solução para os problemas políticos na Líbia, inclusive com possível apoio dos Estados Unidos para depor o ditador Muamar Kadafi, trouxe alívio ao mercado. ¿O cenário internacional melhorou. Mas os conflitos não estão sanados. O investidor deve ficar atento aos problemas do Oriente Médio e aos possíveis picos inflacionários nos países emergentes¿, afirmou. Para Gustavo Hon, da Um Investimentos, o que houve foi ¿uma leve correção do mercado movida pelo sentimento de que a produção petrolífera não está completamente paralisada¿.

Poupança ganha Nos primeiros dois meses de 2011, só as aplicações em renda fixa deram lucro aos investidores. Com perspectiva de alta nos juros para conter a inflação, o ano configura-se como o dos investimentos conservadores. No topo do ranking estão a caderneta de poupança, com ganho 1,78%, e os fundos de renda fixa, com 1,49%. Na lanterna, aparecem o dólar (0,06%), o Ibovespa (-2,77%) e ouro (-4,39%). Quando o foco é apenas fevereiro, o ouro desponta. Os investimentos no metal mostraram resultado oposto aos das demais aplicações, com alta de 5,52% ¿ um sinal da procura por segurança diante da crise nos países árabes.