Título: Investidores negam aplicação em fundo
Autor: Schüffner , Claudia
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2008, Brasil, p. A6
Investidores pessoa física e jurídica que, segundo a Polícia Federal, teriam investido de forma ilegal no Opportunity Fund, negam ter feito tais aplicações, levantando dúvidas sobre uma das principais peças da acusação de evasão de divisas formulada contra o investidor Daniel Dantas. O Opportunity Fund é um fundo de investimentos "offshore" com sede nas ilhas Cayman que, pela legislação vigente na data da sua constituição e também segundo seu regulamento interno, não deveria receber aplicações de brasileiros ou pessoas domiciliadas no país.
Durante suas investigações no decorrer da Operação Satiagraha, a PF identificou uma lista de 84 cotistas, em sua maioria brasileiros. Para a PF, a lista confirma "a suspeita inicial de que o Opportunity Fund estivesse envolvido em prática de delito de evasão de divisas". Essa lista, que quebra o sigilo bancário dos investidores, está disponível desde anteontem na internet.
O fundo de pensão da gaúcha Companhia Estadual de Energia Elétrica, o Eletroceee, é um dos nomes que aparece na lista. Sua assessoria de comunicação informou que a fundação "nunca fez investimentos fora do país". A Eletroceee diz que desde 1998 é cotista de um fundo doméstico do Opportunity, o CVC FIA, onde tinha um saldo de R$ 7,26 milhões em maio. Esse fundo teve seu nome trocado para Investidores Institucionais FIA mais recentemente.
A empresa Elandau Consultoria Econômica Ltda., da executiva Elena Landau, também aparece na lista da PF como cliente do Opportunity Fund. Ouvida pelo Valor, Landau disse que nunca aplicou dinheiro em fundos "offshore" do banco Opportunity. "Eu nunca apliquei dinheiro lá (no Opportunity Fund) porque é proibido", disse. Elena Landau foi executiva do Opportunity nos anos 90. "Eu tinha aplicações em outros fundos administrados pelo banco mas quando saí, em 1999, fiz o resgate total", explicou a executiva, que hoje é advogada do escritório Sérgio Bermudes.
Nos dois exemplos, os investidores afirmam ser clientes de outros fundos do Opportunity, sempre nacionais. Tal fato sugere que pode ter havido alguma confusão entre fundos na identificação de cotistas. Fontes que sabem quem são os cotistas dizem que a lista da PF teria investidores de fundos domésticos do Opportunity e não do fundo "offshore". O Valor identificou ao menos mais um investidor da lista cujo nome também aparece na lista dos cotistas do antigo CVC FIA, que é pública. A polícia não informa qual seria a data da lista dos supostos cotistas.
Fundos de investimento da Caixa Econômica Federal também aparecem na lista. Ontem, a CEF informou que os fundos da instituição não aplicam em fundos do Opportunity. "Como a Caixa não foi questionada por qualquer órgão regulador, não pode se manifestar a respeito de qualquer outro aspecto", informa o banco em nota.
Entre os 84 nomes de supostos cotistas da lista, há companhias limitadas, pessoas físicas, fundos de pensão, fundos de investimento de grandes bancos e funcionários e ex-funcionários do Opportunity.
Segundo a advogada de uma gestora de recursos brasileira, se a lista for verdadeira, diversas entidades reguladoras brasileiras teriam falhado. Fundos pensão não podem aplicar no exterior. Fundos de aplicações em cotas só foram liberados para aplicar no exterior neste ano, com novas regras da Comissão de Valores Mobiliários. Para aplicar fora, os fundos teriam de ser registrados aqui e ter em estatuto a previsão para poder investir fora. (Colaborou Danilo Fariello)