Título: Oriente Médio prepara seu desembarque
Autor: Campassi , Roberta
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2008, Empresas, p. B1
Uma combinação de recursos abundantes e aptidão para a arte de servir fizeram do Oriente Médio uma incubadora de grupos hoteleiros. Ansiosos por fincar suas bandeiras mundo afora, alguns buscam ativamente oportunidades no Brasil e na América Latina.
A empresa mais agressiva em território nacional é a IFA Hotels & Resorts, sediada no Kuait, que investigou o mercado brasileiro por dois anos e no mês passado apresentou oferta para comprar o complexo hoteleiro de Sauípe, que pertencente à Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil. Segundo fontes ligadas às negociações, a IFA disputa com a operadora de turismo CVC e o grupo jamaicano SuperClubs, mas é considerado o vencedor mais provável. A empresa kuaitiana estaria aliada à Odebrecht, dona do terreno onde Sauípe foi construído, na Bahia. A Odebrecht já foi sócia da Previ no complexo hoteleiro, com 8% do negócio entre 1997 e 2003, mas vendeu sua participação ao fundo de pensão. A construtora tem dois empreendimentos residenciais no terreno e seus planos iniciais contemplavam integrar os condomínios com serviços hoteleiros.
A IFA administra mais de 20 empreendimentos distribuídos entre os Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos e países da África, Ásia e Europa. A empresa é listada na bolsa de valores do Kuait e de Johanesburgo. Em 2007, obteve receita de US$ 124 milhões e lucro líquido de US$ 86,5 milhões, segundo informações do site de relações com investidores.
Outra empresa que já manifestou seu interesse pelo Brasil e América do Sul é a Jumeirah, que faz parte do grupo Dubai Holdings, dos Emirados Árabes. "A América Latina é uma região essencial para nossa expansão", afirma Frank Vanderpost, principal executivo de operações da Jumeirah. Ele conta que em junho passou duas semanas no Brasil visitando empreendimentos e cidades. "São Paulo é, claramente, um mercado em que queremos estar. Rio de Janeiro é outra possibilidade." O executivo não revela se o objetivo é comprar um hotel ou conseguir um contrato de administração. O foco, entretanto, são os empreendimentos hoteleiros de luxo, que não existem em grande quantidade nas duas capitais brasileiras.
O primeiro passo da Jumeirah na América Latina foi dado na Argentina. A empresa acaba de fechar um contrato para administrar um resort de luxo com campos de pólo a uma hora de Buenos Aires. "Agora estamos prestes a conseguir um contrato na capital argentina", diz Vanderpost.
A Jumeirah administra onze empreendimentos hoteleiros, incluindo o Burj Al Arab, hotel em forma de uma vela de barco que virou símbolo de Dubai. A meta do grupo é ter 60 novos projetos em diferentes fases de desenvolvimento até 2012.
Outra interessada no Brasil é a Sovereign, braço de hotelaria do grupo kuaitiano Kharafi. Até o fim deste ano, a empresa pretende finalizar um estudo de viabilidade que apontará projetos a serem desenvolvidos no país, segundo Mohamed Fahmy, principal executivo da companhia. Ela administra 32 hotéis de padrões variados em países da África, Oriente Médio e Europa do Leste.
"Há dois anos, quem iria imaginar que esses grupos estariam interessados no Brasil?", afirma Ricardo Mader Rodrigues, diretor da Jones Lang LaSalle Hotels no Brasil. Ele explica que, não apenas o país ficou mais atrativo para investidores internacionais , como o volume de recursos financeiros no mundo diminui nos países desenvolvidos e cresceu em mercados emergentes. As altas recordes do petróleo nos últimos meses dão fôlego adicional aos grupos do Oriente Médio.