Título: Crise nos EUA pode dificultar venda dos parques da Anheuser-Busch
Autor: Leonard , Christopher
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2008, Empresas, p. B5
Quando executivos da Anheuser-Busch revelaram plano para cortar custos em junho, surpreenderam os analistas por não terem proposto a venda dos parques de diversão e das operações de entretenimento do grupo. A cervejaria belgo-brasileira InBev deverá ser menos sentimental.
Tendo acertado a compra da maior cervejaria dos Estados Unidos, por US$ 52 bilhões, os ativos secundários, como Busch Gardens e SeaWorld (parques bem conhecidos dos brasileiros), parecem estar destinados a serem colocados à venda.
A InBev é conhecida por adquirir empresas e cortar os custos agressivamente para melhorar seus resultados.
O executivo-chefe da empresa, Carlos Brito, que passou a terça-feira visitando a sede da Anheuser-Busch, em Saint Louis, e falando com os funcionários, afirmou que já busca ativos para vender, com a meta de economizar US$ 1,5 bilhão ao ano a partir de 2011.
Mesmo se a InBev decidir separar-se dos parques de diversão temáticos, ainda não está claro quem os compraria.
Os problemas do setor financeiro poderiam dificultar a captação dos bilhões necessários para financiar um acordo e muitos operadores de parques de diversão nos Estados Unidos estão em fase de redução de custos para compensar a alta dos combustíveis e a lentidão da economia americana.
"Acredito que se houver um comprador para os parques, poderia vir do exterior", observou Paul Ruben, editor na América do Norte da revista britânica "Park World Trade Magazine". "Há alguns participantes do setor lá fora com os bolsos cheios", disse. Ruben estima que a divisão de entretenimento da Anheuser-Busch poderia render entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões, caso vendida.
A InBev ainda não divulgou que partes da Anheuser-Busch considera secundárias. O conjunto de negócios da Anheuser-Busch é amplo. Além da cerveja, há divisão de empacotamento, elevadores de grãos e fábricas de garrafas e latas no portfólio.
Existe, no entanto, claros incentivos para vender os 10 parques temáticos operados pela unidade Busch Entertainment Corp., que tem pouco a ver com a atividade cervejeira e poderiam obter um bom preço.
"Diria que, com toda probabilidade, os parques temáticos estão em primeiro lugar entre as coisas a sair", afirmou Juli Niemann, analista financeiro da Smith Moore & Co., em Saint Louis. "Não é o negócio (da InBev). Eles fazem uma coisa e a fazem bem. Eles fazem cerveja."
-------------------------------------------------------------------------------- Além da Bud, a AB tem 10 parques, divisão de empacotamento, elevadores de grãos e produz garrafas e latas --------------------------------------------------------------------------------
Entre os possíveis interessados poderiam estar o Merlin Entertainment Group, com sede na Inglaterra, ou a Parques Reunidos, da Espanha, segundo Ruben. Caso oferecessem algo, gozariam de uma vantagem que a InBev já aproveitou ao reunir fundos para comprar toda a empresa. O dólar, enfraquecido, deixa os ativos nos Estados Unidos mais baratos em moedas estrangeiras, como o euro e a libra esterlina.
Os altos preços dos combustíveis tendem a levar alguns consumidores a desistir de visitas a parques como a Disney World, disse Ruben. No entanto, os parques de diversão regionais que atraem visitantes das proximidades - categoria na qual se incluem todos os controlados pela Anheuser-Busch - vão bem neste terceiro trimestre, ressaltou.
"Se os tempos são difíceis, as pessoas não pegam férias longas. Mas passar o dia em um parque temático pode ser feito com um tanque de gasolina" e ainda voltar no mesmo dia, afirmou Ruben. "Historicamente, os parques temáticos passaram por recessões sem ter muito mais do que pequenos abalos."
Embora os parques possam ser um investimento rentável, as grandes empresas do setor nos Estados Unidos não parecem estar muito entusiasmadas em sair às compras.
A Six Flags perdeu US$ 149,9 milhões no primeiro trimestre do ano. Em vez de expansão, a empresa busca dinamizar as operações que já tem.
A Cedar Fair Entertainment, de Sanduski ( Ohio), pagou US$ 1,24 bilhão há quase dois anos para comprar cinco parques da Paramount Parks. Embora o executivo-chefe da empresa, Richard Kinzel, afirme que não projeta uma queda nas visitas aos parques neste terceiro trimestre, a empresa poderia hesitar em entrar em outra rodada de dívidas, avaliou Ruben. A Walt-Disney inclina-se a investir em seus próprios parques, com sua marca, e em atrações, afirmou o editor.
Os funcionários dos parques da Anheuser-Busch não são os únicos a se sentirem incertos sobre o futuro. Representantes dos trabalhadores sindicalizados da divisão cervejeira pediram para reunir-se com Brito para discutir a segurança no emprego.
O sindicato informou em comunicado ter receio quanto ao compromisso de Brito, que será o CEO da nova companhia, a Anheuser-Busch InBev, de manter todas as unidades produtoras de cerveja nos Estados Unidos em funcionamento.
"Sabemos que Carlos Brito, presidente do conselho de administração da InBev, tem a reputação de dizimar custos, sempre, às custas dos trabalhadores", afirmou Jack Cipriani, diretor da Teamsters Brewery e da Soft Drink Workers Conference, em comunicado. O sindicato representa mais de 7 mil funcionários da Anheuser-Busch nos Estados Unidos e Canadá.
A porta-voz da Anheuser-Busch, Brenda Williams, disse que Brito não estava disponível na terça-feira para comentar os possíveis cortes de empregos ou a cisão da divisão de parques de diversão.