Título: Investidor aproveita queda para aumentar aplicações
Autor: Pavini , Angelo
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2008, EU & Investimentos, p. D2
Um sinal da evolução do mercado de capitais brasileiro pode ser observada no movimento atual dos investidores: eles agora estão procurando comprar também quando a bolsa cai, e não apenas depois de o mercado subir, como era comum. "Surpreendentemente, hoje está difícil segurar o ímpeto da pessoa física em comprar ações, é diferente de outras ocasiões", diz Antônio Milano Neto, diretor de renda variável da Fator Corretora .
Ele lembra que há os que entraram na euforia do grau de investimento e que vão demorar para recuperar o investimento. Mas a maioria das corretoras já vinha alertando os investidores quando o Ibovespa bateu 75 mil pontos para o risco de o mercado cair. "Essa é nossa projeção para o fim do ano, e ninguém estava levando em conta a piora da crise de crédito americana", diz. Para ele, o momento é bom para a compra de ações. "Quem está entrando agora, estamos orientado para oportunidades em commodities, como Petrobras, bancos, setor elétrico e concessões, que vão ganhar com os reajustes de tarifas pela inflação mais alta por um ou dois anos e são boas pagadoras de dividendos".
Milano avisa que não dá para saber até onde vai a crise, mas ele acredita que, no longo prazo, o fundamento das empresas vai prevalecer. "O mundo mudou, há mais consumidores e as empresas estão crescendo para atender essa demanda", diz. E acrescenta que várias empresas estão entregando o que prometeram e isso vai se refletir nos preços ou nos dividendos. "Claro que temos infelicidades, como Laep, Agrenco, Brasil Ecodiesel e Cardsystem, mas foram problemas de estratégia", lembra.
No Unibanco Private, os clientes endinheirados foram orientados a reduzir as posições em bolsa quando o mercado passou dos 70 mil pontos, diz Marco Navarro, diretor de Investimentos e Planejamento Patrimonial. "Para os arrojados, sugerimos baixar de 20% da carteira para 5% a 10% e para os moderados e defensivos, a orientação era sair", diz. Agora, depois das quedas, o private voltou a recomendar o aumento das posições em bolsa.
"Estamos sugerindo aos arrojados passar de 10% para 15% da carteira e, para os moderados, ter entre 5% e 10%". Para Navarro, o mercado continuará ruim por pelo menos três meses pelo cenário internacional, com a alta da inflação, a economia dos EUA e os balanços do setor financeiro americano. Mas para 12 meses, o Unibanco Private trabalha com o Índice Bovespa nos 75 mil pontos, uma projeção mais modesta que os 82 mil de antes da alta da inflação mundial. "Há espaço para bons ganhos, especialmente em setores como commodities agrícolas, mineração, siderurgia e petróleo", diz.
O engenheiro de produção, André Luis Botelho Bastos, de 25, que há quatro anos investe em ações, foi um dos que aproveitaram a queda para para aumentar a aplicação em bolsa. "Comprei uns 20% a mais, mas mantenho a disciplina de ter a parcela de ações no máximo em 30% dos recursos em renda variável", diz. O investidor critica as corretoras que, segundo ele, seguem muito o fluxo do mercado. "Quando o mercado está ruim, nenhuma corretora fala para comprar; é só quando o mercado está estável ou subindo que eles recomendam", afirma Bastos.
Cliente da XP Investimentos, Bastos procura estudar e se informar com relatórios de corretoras e salas de bate-papo. E continua otimista no longo prazo, até mesmo com Positivo, um dos papéis que ele comprou e depois se arrependeu. "Nosso valor de mercado ainda é baixo e o país está crescendo, as empresas se desenvolvendo, temos o grau de investimento e o Brasil ainda pode ser a bolsa da vez", diz ele. "E eu não quero perder este momento." Ele gosta de empresas menos líquidas, as "small caps", e um pouco de Petrobras e Vale.
Para quem pensa em se arriscar sozinho na segunda linha, porém, é bom tomar cuidado. Vale lembrar o caso de um grupo de investidores que comprou cerca de R$ 3 milhões em papéis da Agrenco quando eles estavam a R$ 4,40. O papel despencou para R$ 1,50 após a prisão de seu controlador. Ontem, o papel voltou a ser negociado, subiu para R$ 1,67, em alta de 19,28% e alguns se desfizeram de parte das posições. "Vamos ver agora se esperamos ou vamos à Justiça", diz um dos investidores.