Título: CUT e Fiesp criam grupo para discutir inflação e renda
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Fonte: Valor Econômico, 18/07/2008, Brasil, p. A3
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) criaram ontem um grupo de trabalho para discutir o impacto da inflação sobre os preços dos produtos e, conseqüentemente, sobre as perdas no poder de compra dos trabalhadores. O ato foi oficializado em encontro realizado na sede da Fiesp, em São Paulo, em que reuniram-se dirigentes das duas entidades.
"Quem mais sofre com a inflação são as famílias pobres, que vêem sua renda ser suprimida diante dos reajustes de preços dos produtos da cesta básica", observou o presidente da CUT de São Paulo, Edílson de Paula.
Para o líder sindical , representantes dos trabalhadores, do governo e da classe empresarial devem criar uma sistemática de debates para avaliar a real necessidade de reajuste dos preços dos produtos da cadeia alimentícia e de outros produtos. "Queremos questionar o porquê dos reajustes e onde estariam ocorrendo", disse Paula.
No evento, a CUT encaminhou à Fiesp um estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), que eleva para 6,5% a projeção de inflação para este ano. Além disso, a entidade levou aos empresários um documento enumerando ações para a redução no ritmo do aumento dos preços.
Entre as propostas da CUT está a possibilidade de desoneração fiscal sobre os itens alimentícios, como ocorreu no caso do trigo. Com a falta do fornecimento da Argentina, o Brasil teve de recorrer à importação do cereal produzido no Canadá e nos Estados Unidos, pagando um preço mais elevado. Na avaliação do líder sindical, a desoneração de gêneros alimentícios seria uma forma de se encontrar uma saída para evitar a corrosão dos ganhos salariais.
Outra questão defendida pela CUT é retomar a proposta, apresentada em 2005, de uma participação das empresas e dos trabalhadores no Conselho Monetário Nacional (CMN). Hoje, o conselho é composto pelos ministros da Fazenda e do Planejamento, e também pelo presidente do Banco Central. É o CMN que define as metas de inflação que servem de parâmetro para o Comitê de Política Monetário (Copom) na hora de estabelecer a taxa básica de juros, a Selic.
O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, destacou a importância da iniciativa das entidades representativas dos trabalhadores, afirmando que a sociedade precisa envolver-se nas questões monetárias do país. "A inflação é um tema importante e a sociedade tem que entrar neste debate. Nós [as entidades empresariais] também temos que estar juntos".
Segundo Skaf, daqui a 15 dias o grupo deve reunir-se novamente para debater o que foi proposto e decidir o rumo das discussões.