Título: Vice-presidente optou por sua base política
Autor: Rocha , Janes
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2008, Internacional, p. A12

Julio Cesar Cleto Cobos, 53, era governador de Mendoza, uma Província andina, na fronteira com o Chile, cuja base da economia é a agricultura e a produção de vinhos. Quando foi escolhido para ser candidato a vice-presidente na chapa de Cristina Kirchner, analistas argentinos disseram que ele seria uma boa ponte entre os peronistas e os líderes ruralistas, com que sempre teve bom trânsito. Aparentemente, os laços com os ruralistas mantiveram-se fortes - até demais para o gosto da presidente.

Cobos já fazia parte da base de apoio ao governo de Néstor Kirchner, um entre vários governadores da União Cívica Radical (UCR) que apoiavam o então presidente. Mas, dentro de Mendoza, sua base política, uma outra corrente achava que o melhor mesmo seria assumir o papel de oposição e tentar recuperar a Presidência - o último presidente da UCR foi Fernando de la Rúa, que renunciou ao cargo no fim de 2001, na esteira de um débâcle econômico e protestos de rua.

Apesar de sua presença na chapa encabeçada por Cristina Kirchner ter-lhe custado caro dentro do partido, o vice-presidente continuou tendo boa interlocução com os governadores de regiões próximas de Mendoza, como os de Neuquén e Río Negro, outras Províncias vinícolas.

O próprio Cobos se descreve como um progressista de centro-esquerda, um moderado. Nos primeiros meses da Presidência de Cristina Kirchner, ele se manteve longe dos holofotes. Ganhou destaque no conflito entre governo e ruralistas apenas no mês passado, quando propôs que o Congresso deliberasse sobre os impostos tão combatidos pelos ruralistas. Isso foi visto pelos peronistas como uma falta de lealdade à presidente, o que já colocava em risco seu futuro no governo.

Agora, ele diz que não pensa em renunciar à Vice-Presidência.

Cobos tem um histórico acadêmico. Engenheiro Civil pela Universidade Tecnológica Nacional (UTN), onde ele acabou sendo professor. Em 1991, filiou-se à UCR e ocupou cargos na Prefeitura de Mendoza, até se tornar secretário de Obras Públicas da Província, sem deixar de lado a vida acadêmica - foi reitor do braço regional de Mendoza da UTN até 2003, quando se candidatou a governador e venceu.

Em 2007, quando embarcou na chapa de Kirchner, não poderia concorrer à reeleição, por causa da Constituição de Mendoza.

Os laços com a base agrícola porém não se desvaneceram. Segundo o jornal "La Nación", dias antes da votação, o vice-presidente jantou com líderes ruralistas em uma pizzaria de Buenos Aires. Durante a noite, disse em voz alta: "Estou com o campo até o fim".