Título: Sob pressão dos sindicatos, governo estatiza a Aerolíneas
Autor: Rocha , Janes
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2008, Internacional, p. A12

A companhia aérea Aerolíneas Argentinas passou ontem ao controle do Estado, depois de um acordo fechado na Justiça entre o Ministério do Planejamento, a Secretaria de Transportes, os representantes do grupo espanhol Marsans e cinco sindicatos de trabalhadores da companhia. O governo vai recomprar todo o pacote de ações que representam 95% do capital total da companhia (os demais 5% já pertenciam ao Estado) que estava nas mãos dos espanhóis desde 2001.

O secretário de Transportes, Ricardo Jaime, insistiu que não se tratava de uma estatização. Em entrevista à imprensa pela manhã, ele disse que a intenção do governo é recuperar o valor da empresa e revender as ações a um "organismo internacional", através de uma licitação pública.

Nos próximos dias, o governo vai contratar empresas de auditoria para iniciar o processo de "due dilligence" e definir o valor das ações. Mas os controladores reconheceram que a empresa tem dívidas totais no valor de US$ 860 milhões, sendo US$ 240 milhões exigíveis no curto prazo. O reconhecimento deste montante era uma exigência do governo para dar início ao processo de recompra e recuperação da principal companhia aérea do país.

As negociações para a retomada do controle da Aerolíneas pelo Estado vinham desde abril, quando o secretário Ricardo Jaime começou a pressionar os controladores do grupo Marsans diante das várias greves e dos constantes atrasos e cancelamentos de vôos. Em junho, a situação financeira da empresa se agravou com a perda de crédito bancário, culminando com o atraso dos salários. O governo pediu então a intervenção da Justiça e, em seguida, colocou 50 milhões de pesos para pagar os salários e o combustível.

A retomada do controle da Aerolíneas foi anunciada no dia em que o governo da presidente Cristina Kirchner sofreu sua pior derrota política (leia acima) e atende a uma demanda de sua agora principal base aliada: os sindicatos.

A Aerolíneas vinha com problemas financeiros desde o ano passado, quando pediu proteção à Justiça contra os credores. Mas suas finanças não só não melhoraram como foram piorando a cada dia. Segundo dados fornecidos pelos sindicatos de pilotos e do pessoal em terra ao jornal "La Nación", a empresa vinha perdendo US$ 1 milhão por dia desde outubro e faturava US$ 100 milhões por mês. A Aerolíneas não divulga balanços. Cerca de 60% da frota de aviões está parada por falta de combustíveis e peças.