Título: BNDES destina US$ 650 milhões para financiar ferrovia na Colômbia
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2008, Especial, p. B9

Oscar Zuluaga, ministro da Fazenda da Colômbia, sobre o aumento da segurança institucional, fundamental para atrair investidores: "O país se comporta como se já fosse grau de investimento" A Camargo Corrêa e a Odebrecht receberão financiamento de US$ 650 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a construção de uma estrada de ferro entre o altiplano colombiano e o litoral atlântico do país, destinada a transportar carvão para exportação. Obra cercada de expectativa na Colômbia, que depende da ferrovia para exportar maior volume de carvão, com menor custo, à América do Norte e ao Brasil, a iniciativa já teve sinal verde das autoridades brasileiras e será divulgada com destaque durante o encontro dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Álvaro Uribe, neste fim de semana.

No começo da semana, Uribe comemorou o apoio brasileiro à obra. Falando a membros do conselho que prepara a comemoração do bicentenário da independência colombiana, em 2010, o presidente da Colômbia comentou que a ferrovia deverá ter ramais para a capital, Bogotá e para a região de Paz del Rio - onde se instala uma grande siderúrgica recentemente adquirida pela brasileira Votorantim. Essa localização leva analistas da Colômbia a acreditar que a empresa brasileira também poderá ter benefícios com a obra.

Uribe vem há tempos tentando viabilizar a construção da chamada Ferrovia del Carare, que tem o nome do porto pelo qual será escoado o carvão para as rotas do Atlântico. Cogitou até um consórcio de empresas de extração de carvão. O apoio do BNDES garantiu a realização da obra, que, como todas as realizadas com mais de 50% de financiamento estrangeiro na Colômbia, dispensa licitação.

O trecho a ser construído terá 212 quilômetros e a obra prevê, ainda, a remodelação de parte das linhas férreas, em um trecho que pode chegar a mais outros 200 quilômetros. As negociações entre Brasil e Colômbia prevêem que a ferrovia iniciará as operações com o transporte de 10 milhões de toneladas de carvão por ano, o mínimo para viabilizar economicamente a obra. Os colombianos esperam que a ferrovia chegue a transportar 40 milhões de toneladas por ano quando estiver operando com toda a capacidade.

A ferrovia é uma das obras de infra-estrutura que fazem parte de um ambicioso programa promovido por Uribe, com a abertura de oportunidades para participação de empresas brasileiras de serviços, especialmente as da construção civil. A Camargo Corrêa já participa da construção da hidrelétrica Porce III, que deverá iniciar operações em 2010, gerando 660 MW por ano. Há ainda estradas, portos e infra-estrutura de energia nos planos do governo colombiano.

O anúncio da obra por Lula e Uribe tem efeito mais propagandístico que prático, já que a operação já foi aprovada nas instâncias burocráticas dos dois governos. Faltava, segundo um auxiliar de Lula, chamar mais a atenção para a decisão, que é um exemplo robusto da estratégia brasileira de apoiar a interligação da infra-estrutura dos países sul-americanos como forma de facilitar a integração continental. Estudava-se, no começo da semana, uma possível cerimônia com ministros dos dois países para assinatura de um documento simbólico, registrando o acordo de financiamento da ferrovia.

O BNDES calcula ter aproximadamente US$ 10 bilhões em financiamentos destacados para obras de infra-estrutura na região e discute com o governo fórmulas para facilitar investimentos em países como a Bolívia e Paraguai, que têm dificuldade de fornecer garantias para os empréstimos. Uma das maiores operações é a Rodovia Transoceânica, que liga o sistema viário brasileiro ao litoral do Peru: as obras para pavimentação dos 2,6 mil quilômetros da fronteira do Acre a Urcos, no litoral peruano, deverão custar US$ 814 milhões, e têm US$ 417 milhões financiados pelo BNDES e Proex. Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e Odebrecht são as responsáveis pela obra.

O Brasil financia, ainda, pontes nas fronteiras com o Paraguai, Uruguai e Bolívia, além de trechos de uma rodovia transoceânica em território boliviano.