Título: Zurich Seguros compra Minas Brasil e dobra tamanho no país
Autor: Júnior , Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2008, Finanças, p. C3
A seguradora suíça Zurich resolveu apostar no mercado brasileiro. Ontem, anunciou a aquisição da Minas Brasil por R$ 287 milhões em dinheiro. Além disso, vai desembolsar mais outros R$ 50 milhões por um acordo de exclusividade de venda dos seguros nas agências do Banco Mercantil do Brasil, que era o controlador da Minas. Mais R$ 50 milhões vão ser desembolsados dependendo do desempenho da vendas das apólices nas agências do banco mineiro.
A negociação demorou quatro meses para ser concluída e vai permitir que a Zurich dobre de tamanho no país e entre no varejo. Focada em grandes riscos, a seguradora tinha cerca de 400 clientes corporativos e 200 corretores. No ano passado, teve prêmios de R$ 200 milhões.
Já a Minas Brasil opera com apólices para automóveis, vida e previdência e seguros para pessoas (como vida e acidentes pessoais). Nos autos, responsáveis por 50% dos prêmios, tem 180 mil veículos segurados e opera com 4 mil corretores (é a líder do mercado mineiro). No ano passado, o faturamento da companhia, incluindo vida e previdência, ficou em R$ 383 milhões.
Segundo Pedro Purm, o presidente da Zurich, o fato de as duas empresas terem operações complementares foi fundamental para o fechamento do negócio. De imediato, a seguradora passa a contar com 167 agências do Mercantil (e mais 30 postos de atendimentos) para vender seus seguros com exclusividade por 20 anos. O banco tem 520 mil clientes pessoas físicas e 39 mil pessoas jurídicas.
Já o Mercantil, que deve receber mais de R$ 300 milhões em dinheiro com a operação, vai se capitalizar e reforçar suas operações de crédito, conta André Brasil, diretor executivo do banco e responsável pela área de distribuição de seguros e previdência. No final de junho, a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a perspectiva do rating do Mercantil de "estável" para "negativa". Uma das razões apontadas era a dificuldade do banco em ganhar escala.
O diretor do Mercantil conta que o banco, uma vez capitalizado, pretende manter o foco na expansão das operações de crédito. A carteira do banco cresceu 35% no ano passado, para R$ 3,7 bilhões. O banco é forte em crédito consignado e financiamento de veículos, além de empréstimos para pequenas e médias empresas. "Há uma tendência de os bancos deixarem de ser acionistas de seguradoras para se transformarem em distribuidores e fomos neste caminho", diz Brasil. Nos últimos anos, Banco Real, HSBC e Nossa Caixa venderam parte de suas operações de seguro.
Assim como o banco, a Minas Brasil também precisava de recursos para continuar crescendo no mercado. No ano passado, em meio à euforia com a bolsa de valores, chegou a estudar uma oferta de ações para se capitalizar, mas acabou desistindo. O lucro líquido caiu de R$ 29 milhões em 2006 para R$ 9 milhões em 2007.
Esta é a primeira aquisição da Zurich no país em mais de 20 anos. A segurador chegou ao Brasil em 1984 por meio de uma aquisição. Comprou na época a Anglo Americana e desde então não adquiriu outra seguradora. Em alguns períodos, ensaiou a entrada no varejo e chegou a ter uma carteira de automóveis, mas por falta de escala, abandonou os negócios. No ano passado, trouxe uma série de novos seguros como o D&O (que protege executivos de ações jurídicas), fraudes corporativas e responsabilidade civil para executivos.
A aquisição da Minas Brasil ainda precisa ser aprovada pela Superintendência de Seguros Privados (Susep). Na verdade, foram adquiridas duas companhias, a Minas Brasil (87% do capital) e a Minas Brasil Vida e Previdência (100%). No caso da primeira, que é uma empresa aberta, a idéia é fazer uma oferta pública, comprar as ações no mercado e fechar o capital.
Segundo Purm, o nome Minas Brasil deve ser mantido. As duas empresas juntas devem ter faturamento de R$ 600 milhões, equivalente a pouco mais de 1% do mercado. Já o grupo Zurich, um dos maiores da Europa, teve faturamento global de mais de US$ 35 bilhões em 2007 e lucro líquido de US$ 5,6 bilhões.