Título: Em Minas, alianças municipais miram o apoio de Aécio em 2010
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 22/07/2008, Política, p. A8

Governador de Minas reeleito, ex-presidente da Câmara e possível candidato à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, Aécio Neves domina todas as articulações políticas das eleições municipais de 2008 em Belo Horizonte. Os passos que ele der, agora e em 2010, poderão sepultar ou alavancar a esperança de políticos que hoje lutam para estar ao seu lado no palanque.

O poder de sedução de Aécio foi construído por anos de convivência com o avô materno, Tancredo Neves, o primeiro civil eleito presidente da República depois de 21 anos de governo militar, mas que morreu antes de tomar posse, em março de 1985.

Em janeiro daquele ano, na véspera da reunião do colégio eleitoral (a eleição era indireta) que escolheria o sucessor do general João Batista Figueiredo na presidência da República, ciente de que era fundamental adular aliados para obter os votos necessários à vitória, Tancredo ofereceu em seu apartamento um café da manhã para cerca de 40 integrantes do colégio.

O grupo ainda estava indeciso entre apoiar Tancredo ou votar em Paulo Maluf, então do PDS, candidato que contava com o apoio dos militares. Terminado o café, os parlamentares se distribuíam entre os veículos Opalas e Kombis que os levariam ao Congresso, conta um dos presentes na ocasião.

Tancredo entra em um dos carros e seu neto Aécio, com apenas 24 anos e sem mandato político (seria eleito no ano seguinte deputado federal), pendura-se em um dos estribos da Kombi e grita: "Eu vou aqui com o vovô, o resto se divide pelos outros carros". Mineiramente, Tancredo sai do carro e dirige-se ao jovem Aécio: "o resto não, meu netinho, os demais", ensinou.

Hoje com 48 anos, Aécio, habilidoso, aprendeu que um amplo arco de alianças pode ser útil do ponto de vista pragmático. Por isso, selou um acordo informal com o prefeito de Belo Horizonte, o petista Fernando Pimentel. Ambos apóiam Márcio Lacerda (PSB). Pimentel, com o apoio de Lula, aproximou-se do tucano pois pretende concorrer à sua vaga em 2010. "A curto prazo, buscamos eleger nosso candidato. A longo prazo, nosso objetivo é mostrar ser possível um entendimento entre PT e PSDB, pensamento compartilhado pelo presidente Lula", diz Pimentel.

Esse argumento levou a direção nacional do PT a vetar formalmente a aliança, abençoada publicamente por Lula. Mais do que projetar um futuro cenário nacional, a aproximação entre PT e PSDB minou o espaço do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias. Nome natural para concorrer à prefeitura de BH, Patrus preferiu permanecer no Ministério. Mas seu grupo bombardeou a aliança. "O Pimentel quer tirar o Patrus de tudo, isso não se faz", reclamou um integrante da cúpula do PT.

A ministros importantes do governo, Patrus tenta demonstrar que não queria de fato ser candidato a prefeito: "Tenho uma missão no Ministério e vou até o final", repete ele. Sobre os passos futuros, também busca fazer pouco caso, embora seu grupo político esteja orientado a fazer campanha para a deputada do PCdoB, Jô Morais. "Eu tenho minha vida intelectual. Se não for candidato mais para frente, não tem problema", disse Patrus a um ministro próximo de Lula.

"Do jeito que o Pimentel costurou, não há outra saída para Patrus a não ser candidatar-se em 2010 para desbancar o prefeito", defende outro aliado do ministro. A briga será intensa. Pimentel controla o diretório municipal, mas Patrus é mais forte no Estado. "Se o Patrus for candidato, eu abdico", desconversa Pimentel. "Duvido, ele não chegou até aqui para desistir assim", disse um petista mineiro.

Não é só o PT que está brigando por Aécio. O PMDB também. Tanto que escolheu como candidato a prefeito de BH um deputado aliado do governador, Leonardo Quintão. "Estar próximo de Aécio é bom para nós. Belo Horizonte tem uma representatividade grande, mas Minas Gerais é muito grande, são 863 municípios", declara Quintão. "Não há como desprezar os altos índices de avaliação do governador depois desses seis anos e meio de governo", completa.

Quintão é candidato à prefeitura, mas seu partido tem planos mais ambiciosos para 2010. Não para ele, mas para o ministro das Comunicações, Hélio Costa. Dois anos antes do pleito, Costa lidera com folga todas as pesquisas de opinião para o Palácio da Liberdade. "Ele já concorreu ao governo estadual, é senador por Minas e ministro das Comunicações. Não se pode desprezar o potencial político dele nem de nosso partido", defende Quintão.

As eleições para o governo de Minas em 2010 também estão amarradas em torno de Aécio, apesar de ele não poder concorrer novamente. Os passos futuros do governador serão decisivos. Aécio disputa com o governador de São Paulo, José Serra, o direito de ser o candidato do PSDB à Presidência. Se perder e permanecer na legenda, restará o Senado. "Ainda é muito cedo para fazer esse tipo de especulação", afirma Pimentel.

O petista lembra que até mesmo o partido ao qual Aécio estará filiado em 2010 é uma incógnita. A cúpula do PMDB tenta convencê-lo a voltar à legenda de onde saiu em 1988, ano da fundação do PSDB. "Já imaginou, um Neves subindo a rampa do Planalto, completando um ciclo iniciado por Tancredo em 1985?", entusiasma-se um pemedebista mineiro.

Quintão está convicto de que Aécio vai retornar ao PMDB. O que, na sua visão, complicaria a vida do PT no Estado. "Aécio é um grande nome para presidente, com certeza terá apoio do partido. E se concorrer ao Senado, está eleito e cacifará o nome de Hélio Costa para o governo estadual", diz Quintão. Mesmo se isso não acontecer, e Aécio concorrer ao Senado pelo PSDB, ainda assim, na visão do deputado, a proximidade mais natural é com o PMDB. "Essa aliança do PT com o PSDB não resiste nesses dois anos".

Se Aécio não disputar a presidência e tiver que concorrer ao Senado, sobrariam, então, duas vagas (a outra para o Senado e a de governador) para serem disputadas por Pimentel, Costa e Patrus. "Isso se não houver nenhum nome da oposição por aí", preocupa-se um aliado de Aécio.