Título: Cresce onda contra fast-food nos EUA
Autor: McBride, Sarah
Fonte: Valor Econômico, 22/07/2008, Internacional, p. A10

Apesar da reputação que a cidade tem de ser maníaca por dietas, partes de Los Angeles têm taxas de obesidade que rivalizam as de qualquer município dos Estados Unidos. Agora, a cidade pode se juntar a um crescente grupo cujas prefeituras pretendem colocar os americanos em regime com regras mais rigorosas para a indústria de fast food.

Jan Perry, uma vereadora de Los Angeles, está propondo uma lei que impediria a abertura de novas lojas de fast-food como McDonald's e KFC numa área de 83 quilômetros quadrados da cidade, inclusive o distrito eleitoral dela. A área visada, maior que a do município de Osasco, já abriga cerca de 400 lanchonetes fast food, afirma ela, o que possivelmente contribui para as alarmantes taxas de obesidade - 30% dos adultos, em comparação com 21% no resto do condado.

A proibição duraria um ano, embora Perry tenha esperança de torná-la permanente. Hoje, um comitê vai fazer uma recomendação em relação à medida, antes de enviá-la para votação na câmara municipal.

Com a proposta de lei, Los Angeles está adotando em relação ao fast food uma atitude mais rigorosa, como a que tem emergido em vários governos municipais ao redor dos EUA. As cidades começaram a regulamentar a informação dos menus, proibir ingredientes e agora ditar se os restaurantes são suficientemente bons para a saúde como condição para abrir as portas em suas comunidades. Proponentes dizem que as medidas são fundamentais na luta contra obesidade, diabetes e outras doenças. Oponentes dizem que as regras vão longe demais e violam liberdades importantes.

"É bem o exemplo de um Estado-babá", diz Alan Hoffenblum, um lobista republicano que vive na cidade de Los Angeles.

E a indústria do fast food diz que as medidas põem culpa demais no setor.

"Temos um problema básico com o fato de o governo interferir e tratar os restaurantes como se estivessem engajados em atividade que esteja na raiz da epidemia de obesidade", diz Jot Condie, presidente da Associação de Restaurantes da Califórnia. Ele diz que a culpa da epidemia é uma complexa mistura de fatores, entre os quais estilos de vida sedentários e falta de educação nutricional.

Em Nova York, uma lei que começou a vigorar este ano exige que lanchonetes exibam os números de calorias no cardápio principal, acima do balcão. São Francisco planeja adotar uma regra parecida este ano. Em ambas as cidades, o setor de alimentação entrou com ações na justiça para impedir a aplicação das medidas. Em Nova York, juízes do tribunal de recursos permitiram que a cidade prosseguisse com o programa enquanto avaliam o caso.

A regra de exibir o número de calorias surge depois de uma proibição ao uso de gorduras hidrogenadas, ou trans - que entopem as artérias -, em restaurantes de Nova York. Muitas cadeias já retiraram as gorduras trans de suas cozinhas. Agora, leis parecidas estão pipocando pelo país. Em Boston, a proibição passa a vigorar em setembro. Em Baltimore, no ano que vem. Deputados estaduais da Califórnia enviaram um projeto de lei ao governador Arnold Schwarzenegger que proibiria as gorduras trans em restaurantes e padarias de todo o Estado.

Autoridades argumentam que têm de atacar todas as causas da obesidade. Em Nova York, funcionários da prefeitura disseram que a nova informação nos menus vai salvar pessoas da obesidade e da diabetes.

A lei pendente em Los Angeles parece particularmente dura porque vetaria, pelo menos temporariamente, a abertura de qualquer loja de fast food numa parte grande da cidade. Embora algumas cidades menores tenham proibições a estabelecimentos de fast food, elas são normalmente por questões estéticas ou para proteger os comerciantes locais. A iniciativa de Perry parece ser um exemplo raro em que uma grande cidade põe questões de saúde no zoneamento urbano.

Mas pode não ser a última. O departamento de planejamento de Los Angeles informa que recebeu ligações de várias cidades solicitando cópias da proposta. "A influência está aí", diz Faisal Roble, o planejador da cidade que elaborou a proposta.

Muitos moradores da área dizem que apóiam a proibição, mesmo os que freqüentam regularmente os restaurantes. "É uma boa idéia", particularmente para as crianças, disse recentemente Rafael Escobar, 69 anos, quando comia um burrito de lingüiça do McDonald's. Ele acha que a medida pode encorajar outros tipos de estabelecimentos de comida a ir ao bairro.

Mas Brian Mason, que parou num McDonald's antes de visitar seu irmão na Universidade do Sul da Califórnia, ali perto, disse que a proibição de novas lanchonetes faria pouco para resolver os problemas de saúde que estão por trás da medida. Uma solução melhor, segundo o estudante, é a educação nutricional. E muitos clientes disseram que vão continuar freqüentando esses restaurantes, com as crianças, não importa quais outras opções uma proibição ao fast food possa trazer.

Nos EUA como um todo, a indústria da alimentação está adotando abordagens diferentes para a situação. Uma é básica: introduzir itens mais saudáveis ao cardápio e retirar voluntariamente gorduras trans, na esperança de evitar alguma legislação que lhes custe mais caro.

Mas onde o setor considera que a legislação foi longe demais ele não tem hesitado em abrir processos. Em Nova York e São Francisco, a indústria está lutando com as regras de exibição das calorias sob o argumento de que violam a liberdade de expressão, porque forçam as empresas a articular mensagens do governo.