Título: Sinal amarelo para exportadores de milho
Autor: Rocha , Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 22/07/2008, Agronegócios, p. B11

O sinal amarelo já acendeu para os exportadores de milho do país. Além do real valorizado, que acaba desestimulando as vendas externas do produto, os exportadores terão de enfrentar a partir de agora um concorrente mais competitivo no mercado, a Argentina, que voltará a embarcar depois de um período de restrições a suas exportações de grãos.

O efeito do real valorizado já aparece nos embarques de milho do Brasil. Entre janeiro e junho deste ano, as vendas externas do produto somaram 2,93 milhões de toneladas, quase 8% menos do que no mesmo período de 2007, quando alcançaram 3,2 milhões de toneladas, segundo dados da Secex compilados pela Céleres.

A Conab ainda estima exportações de 11,553 milhões de toneladas este ano, acima das 10,933 milhões de 2007. Mas dentro do próprio governo há quem avalie que é necessário esperar alguns desdobramentos do mercado para uma estimativa mais precisa.

O comportamento da safra de milho dos EUA - estimada em 293 milhões de toneladas - é um aspecto. Além disso, é preciso saber o tamanho das perdas da safrinha no Brasil, observa Sílvio Farnese, coordenador geral de culturas anuais do Ministério da Agricultura. Para completar, há a Argentina, que hoje está mais competitiva que o Brasil, já que o peso está desvalorizado ante o dólar.

Apesar dos preços elevados no mercado internacional - mesmo com as quedas recentes -, está mais vantajoso vender no mercado doméstico, onde as cotações estão acima da paridade de exportação. Segundo Leonardo Sologuren, da Céleres, a paridade hoje está em R$ 19,00 no interior do Paraná enquanto o disponível está em R$ 23,50. Para ele, esse quadro pode afetar os embarques e gerar um excedente de oferta de milho até o momento em que os preços se igualarem.

Sologuren acrescenta que mesmo com a quebra na safrinha paranaense, o Brasil deve ter produção recorde de milho - na casa das 54 milhões de toneladas - , já que a boa produtividade do Mato Grosso deve compensar parte da perda. Os preços internos do milho já recuam, acusando o aumento da oferta.

Diante disso, diz, o país terá de exportar entre 10 milhões e 12 milhões de toneladas de milho para que não haja grande excedente no mercado interno. Para ele, uma colheita acima do previsto nos EUA e a perda de competitividade em relação à Argentina poderiam impedir o país de embarcar tais volumes. Em outro cenário, o Brasil conseguiria exportar, mas a preços inferiores ao esperado.