Título: Ampliação da credibilidade do BC atua para reduzir custo do crédito
Autor: Guimarães , Luiz Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 24/07/2008, Finanças, p. C2

Apesar de os juros futuros previstos para os próximos meses terem subido nos últimos três dias, o ajuste à decisão do Copom de intensificar o aperto monetário forçará novas elevações hoje. As taxas longas, sobretudo para os contratos com vencimento a partir de 2010, já estão mais ajustadas e passarão a refletir a ampliação da credibilidade do BC. Tido como um dos poucos bancos centrais do mundo que estão "à frente da curva de juros", o BC brasileiro aumenta a dose de confiança dos agentes financeiros em suas decisões.

Para analistas independentes, a ampliação do aperto monetário pode se transformar num tiro no próprio pé do BC. O raciocínio é o de que, se a austeridade já mundialmente aplaudida conseguir aumentar ainda mais a sua credibilidade junto aos agentes econômicos, logo a expectativa de IPCA para 2009, em 5% segundo o último Focus, voltará ao centro da meta de 4,5%. Para ser coerente com esse retorno, as taxas de juros longas, projetadas para 2009 e 2010 pelo mercado futuro da BM&F, recuarão, tornando mais baratos os financiamentos bancários a empresas e consumidores. Ou seja, um choque de juros pode, em prazos maiores, provocar mais inflação, além de encarecer a rolagem dos papéis da dívida pública.

Para o economista-chefe da Gradual Corretora, Pedro Paulo da Silveira, a decisão de ontem visou justamente melhorar ainda mais a alta credibilidade do BC, ao sinalizar que não vai contemporizar com as pressões inflacionárias. Não irá se eximir a fazer o seu papel a despeito do comedimento monetário exibido pelos bancos centrais dos países desenvolvidos.

Para Miguel Daoud, diretor da Global Financial Advisor, o Copom quer colocar logo a inflação esperada para 2009 em linha com a meta de 4,5%, porque o processo inflacionário atual pode tornar-se perigoso. Se conseguir logo a convergência, o total do aperto monetário imaginado pelo mercado - entre 300 a 400 pontos percentuais - não precisará ser estendido.

No entender do economista-chefe da Concórdia Corretora, Elson Teles, a principal justificativa para a aceleração do ritmo de aperto monetário foi o aumento dos riscos e conseqüente piora no cenário prospectivo de inflação em relação ao traçado pelo Copom na reunião anterior. "Ao agir dessa forma, o Copom reafirma, aos agentes econômicos, o seu compromisso em perseguir, de forma tempestiva, o centro da meta de inflação já para o ano-calendário de 2009", diz o economista. Ao mesmo tempo, na visão de Teles, essa decisão deverá contribuir para resguardar a credibilidade do Copom e reforçar o processo de ancoragem das expectativas de inflação.

Em nota, a Força Sindical condenou a "dose cavalar" do aumento dos juros. "Manifestamos nosso repúdio a este aumento cavalar da taxa Selic decidido pelo governo sob a alegação de que é preciso estancar a aceleração do processo inflacionário, reduzindo a demanda", diz. A CNI desaprovou a alta de 0,75 ponto, pois considera a política monetária gradualista mais eficiente em ambientes de incerteza.