Título: Planalto considera crise superada
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 24/07/2008, Finanças, p. C8

Depois de intervir para tentar apagar o incêndio político provocado por setores da Polícia Federal, o governo avalia que a polêmica em torno da Operação Satiagraha está encerrada e o inquérito retoma o curso técnico das investigações. Segundo o ministro da Justiça, Tarso Genro, a atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada, quando deu declarações públicas cobrando a permanência do delegado Protógenes Queiroz no inquérito ou uma declaração do policial informando que estava deixando por livre e espontânea vontade o inquérito, foi fundamental para evitar interpretações contrárias. "O inquérito havia se transformado em uma questão política. Não estávamos discutindo a proteção a A, B ou C", justificou o ministro da Justiça.

Quando a Operação Satiagraha foi realizada, há duas semanas, as primeiras informações que chegaram ao Palácio do Planalto apontavam para uma investigação consistente. "Mas começaram a partir informações de alguém do inquérito - eu não sei quem - de que o governo estava manipulando para retirar o delegado Protógenes Queiroz das investigações. E isso não era verdade", assegurou o ministro. A politização das investigações, na visão palaciana, começou quando Genro e o presidente do Supremo Tribunal Federal começaram a trocar ofensas ríspidas e públicas. "Eu falava com o presidente Mendes duas vezes por dia, jamais rompemos", disse Genro.

No Planalto, a avaliação era de que a temperatura subia. As coisas pioraram quando foram divulgadas conversas telefônicas entre o ex-deputado do PT Luiz Eduardo Greenhalgh e o secretário pessoal da Presidência, Gilberto Carvalho. Segundo um auxiliar do presidente, uniram isso às menções à chefe da Casa Civil, Dilma Roussef e "palacianizaram a crise". Carvalho divulgou nota negando tráfico de influência. Lula, durante a coordenação política, condenou o uso de algemas em Daniel Dantas, Naji Nahas e Celso Pitta.

Na terça-feira passada, Genro e Mendes reuniram-se no gabinete presidencial. "Não interessava ao presidente a manutenção daquele antagonismo opondo STF e Ministério da Justiça", confirmou um governista. As pressões continuavam. No mesmo dia, Protógenes participou de tensa reunião na sede da PF, que decidiu sua saída do inquérito.

Em nota, a PF afirmou que ele saiu da investigação para "freqüentar um curso de especialização". A pessoas próximas, o delegado reclamou que foi pressionado e que não teve apoio de seus superiores, que lhe teriam negado até auxiliares. "Como ele diz que faltaram auxiliares se ele se recusou a informar aos seus superiores o teor completo das investigações?", cobrou um ministro.

Lula avisou a Genro que falaria publicamente sobre o caso. Cobrou uma explicação de Protógenes. A PF soltou nota, mas a tensão não diminuiu. Genro, Lula e o diretor interino da PF, Romero Menezes, resolveram divulgar trechos da fita com a reunião no escritório da PF. Queriam, com isso, afastar de vez as insinuações de operação-abafa. O tiroteio continuou, mas o governo começou a se esvair do debate. Avaliou que tinha feito o que precisava fazer.