Título: Países desenvolvidos querem limitar flexibilidade solicitada pelo Mercosul
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Fonte: Valor Econômico, 23/07/2008, Brasil, p. A3
Os países desenvolvidos aumentaram ontem a pressão para limitar a flexibilidade para o Mercosul proteger suas indústrias num acordo na Rodada Doha. Eles insistiram em só aceitar que o bloco proteja 12% de suas linhas tarifárias industriais, comparados aos 16% pedidos pela Argentina para poder acomodar as sensibilidades de cada país.
Os Estados Unidos apresentaram proposta por acordos setoriais, oferecendo uma espécie de "bonus" como estímulo para quem aceitar eliminar ou reduzir substancialmente as alíquotas dos setores negociados. Pelo bônus, teriam 1a 2 pontos nos coeficientes para reduzir menos as tarifas no resto. Os emergentes são contra.
Os países continuaram fortemente divididos após sete horas de negociações agrícola e industrial no "green room" (reunião ministerial restrita), com cobranças recíprocas e manutenção de posições. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reclamou que a negociação está lenta demais, mas logo acrescentou ser "melhor um começo em câmara lenta do que paralisia total, assim podemos continuar a discordar".
Pascal Lamy, diretor da OMC, mudou o formato das negociacões a partir de hoje, agora em pequenos grupos ou bilaterais. A negociação de serviços foi empurrada para sexta-feira.
Peter Mandelson, o comissário europeu de comércio, disse que um dos momentos ruins foi quando "um ou dois países", Argentina e Índia, pareceram rejeitar o texto de base da negociação industrial, mas que as coisas teriam entrado nos eixos mais tarde.
Pela manhã, quando Lamy mencionou aceitação dos parâmetros fixados pelos textos dos mediadores agrícola e industrial, o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Jorge Taiana, contestou: "Isso não é verdade dentro de Nama [o texto para a liberalização industrial]".
As cobranças dos países desenvolvidos continuaram fortes por uma cláusula "anti-concentração" na área industrial, para os emergentes não protegerem todo um setor, como automotivo. "No geral, o tabuleiro não se mexeu", resumiu um negociador já a meia-noite em Genebra. (AM)