Título: No 1º turno, Lula limitará participação a S.Paulo e S.Bernardo
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 23/07/2008, Política, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai participar das campanhas, ainda no primeiro turno, dos petistas Marta Suplicy (candidata à prefeita de São Paulo) e Luiz Marinho (candidato a prefeito de São Bernardo do Campo). A decisão, já comunicada por Lula a seus auxiliares mais próximos - incluindo ministros - será a única exceção feita pelo presidente da República nas eleições de outubro. Nas demais cidades, especialmente as capitais, o presidente só pedirá voto aos aliados no segundo turno, assim mesmo quando estiver configurada a disputa entre candidatos aliados ao governo federal e candidatos do DEM, PSDB ou PPS.

Lula escolheu São Paulo e São Bernardo do Campo por considerá-las estratégicas para o mapa político do PT e dele próprio. Recuperar a Prefeitura de São Paulo é um sonho dos petistas, já que o governo estadual está há vários anos nas mãos do PSDB e a prefeitura atualmente é comandada pelo DEM. Além de colocar Marta novamente no mesmo posto de onde foi derrotada em 2004, a vitória traria outro gostinho especial, já que o PMDB estadual, comandado pelo ex-governador Orestes Quércia, resolveu apoiar o Democratas Gilberto Kassab para cacifar o governador tucano José Serra rumo a 2010.

São Bernardo do Campo tem dois aspectos que impulsionaram a decisão presidencial. Além de ter um apartamento na cidade, foi lá onde começou sua vida de sindicalista. É também uma forma de retribuir a lealdade de Marinho, um de seus mais próximos aliados políticos, ex-presidente da CUT e ex-ministro do Trabalho e da Previdência. A ida de Marinho para o ministério do Trabalho foi uma decisão pessoal de Lula. Quando foi preciso reacomodar o PDT no governo, o presidente pediu a Marinho que assumisse a pasta da Previdência e o ex-sindicalista não se opôs.

Para tornar o cenário mais tranqüilo ainda, não há outros candidatos da base disputando a prefeitura de São Bernardo. A coligação do ministro, liderada pelo PT, tem 11 partidos e enfrentará, como principal adversário o candidato do PSDB, Orlando Morando, deputado estadual que tem o apoio do prefeito William Dib (PSB). O segundo cabo eleitoral mais importante de Marinho, depois do presidente, é ex-prefeito da cidade, Maurício Soares (PSB), que, graças à articulação do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, desistiu de se candidatar pela quarta vez ao cargo para apoiar Marinho.

Ainda não está definido qual será o papel de Lula nas duas campanhas. Ele não informou se subirá nos palanques, se participará de atos públicos ou se limitar-se-á a gravar participações nos horários eleitorais gratuitos. Para um parlamentar próximo à Marta, o ideal seria que o presidente aparecesse apenas na reta final da campanha, para não "banalizar a participação do presidente". Ele confirmou que o comando de campanha da ex-ministra do Turismo não decidiu ainda como será essa parceria. "Mesmo que seja uma simples caminhada, já será ótimo. Não é em qualquer campanha de rua que você pode contar com a companhia do presidente da República", animou-se.

A decisão de Lula não chegou a surpreender os aliados de Marta. Eles lembram que Lula vem atuando de maneira efetiva desde o início da campanha. Citam as conversas do presidente com o PCdoB para viabilizar a formação da chapa Marta-Aldo Rebelo. Por outro lado, reforçam que a imagem de Marta está inevitavelmente associada à do presidente. "Ela é ex-ministra, não há como escapar dessa proximidade".

Apesar da decisão de participar da campanha dos dois petistas, Lula está preocupado com o envolvimento da imagem do governo nas campanhas municipais. Por isso, vetou a participação da chefe da Casa Civil, ministra Dilma Roussef, em campanhas fora do Rio Grande do Sul - estado onde ela começou sua militância político-partidária. A ministra não gostou da decisão , argumentando que alguns companheiros do PT já haviam solicitado mensagens de apoio e presenças em palanques em todo o país.

Dilma já participou de um evento ao lado de Marta Suplicy, em São Paulo, onde, além de expor as obras do PAC mobilidade urbana, teceu vários elogios à ex-companheira de Esplanada. "Eu acho melhor não, sua imagem está muito ligada à minha", disse o presidente, segundo relato de auxiliares. Lula acredita que, dessa forma, também preserva a imagem da ministra, que tem sido vítima de ataques nos últimos meses - dossiê e venda da Varig, especialmente - desde que surgiu como principal nome do PT na sucessão de 2010.

Outro que teve sua participação eleitoral circunscrita foi o ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro. Múcio vai participar de atividades apenas em Pernambuco, seu estado natal. Lula escalou o petebista para outra missão, ao lado do ministro da Justiça, Tarso Genro. Ambos vão se reunir ainda nessa semana, no mais tardar na próxima, com os presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) e do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN) para "azeitar" o caminho da reforma política. Decidido de vez a ser patrocinador da reforma, Lula avisou aos ministros que pretende mandar a proposta ao Congresso logo após as eleições municipais, quando os parlamentares estarão de volta às atividades legislativas.(Colaborou Cristiane Agostine, de São Paulo)