Título: Presidente pede que ministros divulguem mais suas obras
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 23/07/2008, Política, p. A7

Por dois dias seguidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu um "puxão de orelhas" em seus ministros, cobrando mais ação e publicidade para as obras do governo. Na segunda-feira, Lula reuniu 15 ministros ligados à área social, ouviu queixas sobre a falta de recursos, mas afirmou que "ninguém pode inventar mais nada, porque já tem ações demais até 2010 para tocar". Ontem, durante a reunião de coordenação política, Lula falou que existem diversas ações ocorrendo no país, mas que é preciso divulgá-las melhor para que a população e os empresários mantenham o otimismo.

Para o presidente, a divulgação das obras de infra-estrutura, ao lado de ações e investimentos empresariais, cria um imagem positiva ainda maior diante da atual pressão inflacionária que vive o país. Previsões do mercado apontam que a inflação medida pelo IPCA vai superar este ano o teto da meta estabelecida pelo Banco Central, que é de 6,5%. As últimas projeções eram de que o IPCA vai atingir 6,53%. Durante a reunião de coordenação política, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisou aos demais integrantes do núcleo central do governo que as medidas tomadas pela equipe econômica - como o aumento do IOF, por exemplo-, começam a surtir efeito.

A análise sobre o momento inflacionário, no entanto, ainda provoca discursos divergentes no governo. Enquanto os integrantes da equipe econômica tentam vender a imagem de que a inflação "não é mais a preocupação do governo", auxiliares do presidente confirmam que o Planalto está preocupado com o assunto. "É um mal que está sendo tratado, mas precisamos manter a atenção", reforçou uma pessoa próxima do presidente.

É justamente por isso que o presidente cobrou mais visibilidade para as ações do governo. Para ele, o aumento no investimento público e privado é uma prova de que o setor produtivo continua apostando no Brasil e que, apesar de alguns solavancos momentâneos, existem condições de o país manter a sua rota de crescimento, mantendo para este ano uma expectativa de que o Produto Interno Bruto (PIB) evolua um pouco abaixo dos 5%. Lula citou algumas obras que, para ele, não estão sendo bem "vendidas" para a população. No encontro com os ministros da área social, elencou o Complexo Petroquímico do Estado do Rio (Coperj), a construção de mais refinarias de petróleo, as negociações para a viabilização do trem de alta velocidade ligando o Rio a São Paulo e a construção das usinas hidrelétricas no Rio Madeira.

Não são apenas os investimentos públicos que mostrariam, na visão do presidente, que o Brasil está no rumo econômico certo. Diante dos ministros, Lula apontou o aumento de investimentos da iniciativa privada, usando como exemplo as movimentações da Vale para aquisições de empresas como a X-Strata e a Anglo American, bem como os planos para a construção de uma nova siderúrgica no Pará. Lula também lembrou que a Toyota escolheu Sorocaba para construir uma fábrica voltada para veículos de pequeno porte, além de novos investimentos de indústrias de celulose no país.

O presidente também demonstrou entusiasmo com as novas descobertas da Petrobras. Ele confirmou para setembro, provavelmente na semana em que se comemora a independência, uma visita à área do pré-sal do Espírito Santo, mais rasa, batizado pelo próprio presidente de "pré-salzinho". Lula quer acompanhar a primeira exploração no local. Em março, ele pretende acompanhar de perto o "primeiro furo" no megacampo de Tupi.

Interessa também ao governo ter uma boa imagem empreendedora, já que este semestre estará totalmente focado nas eleições municipais. Lula não deu ouvido aos ministros da área social, que jogaram a responsabilidade pela demora de suas ações à morosidade do fechamento dos convênios com Estados e municípios. E quer fornecer discurso para os aliados usarem nas disputas para as prefeituras.