Título: Saúde marca campanha eleitoral no Rio de Janeiro
Autor: Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 23/07/2008, Política, p. A8

Grande ponto fraco da gestão do atual prefeito Cesar Maia (DEM), a área da saúde tornou-se o principal tema da campanha eleitoral carioca. A cidade acaba de passar pela pior epidemia de dengue já registrada em sua história. De janeiro a junho, 87 pessoas morreram em decorrência do vírus da dengue e 109,6 mil pessoas contraíram a doença no município , segundo a Secretaria Estadual de Saúde. Outras 72 mortes estão sob investigação. Em 2005, Maia, eleito pela terceira vez devido à imagem de bom gestor, sofreu intervenção do governo federal em seis hospitais da rede municipal, em meio a problemas de manutenção nas instalações, falta de equipamentos, remédios vencidos e salários atrasados.

Na avaliação do cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), a violência e a saúde são as maiores preocupações do eleitorado carioca, conforme as pesquisas mais recentes. "Como a questão da violência não é da atribuição da administração municipal, o tema central da campanha é a saúde, além de ser o ponto mais frágil do atual prefeito", disse Monteiro. Para o cientista político, a dengue ainda está na lembrança do carioca e foi fatal para a queda de popularidade de Maia. "Na época da epidemia, a saúde passou a ser a maior preocupação dos eleitores, acima da violência. Isso atingiu o prefeito", diz.

Nesta semana, o candidato do PRB à prefeitura do Rio de Janeiro, o bispo licenciado da Igreja Universal e senador Marcelo Crivella, chamou a epidemia de dengue de "epidemaia". Para o senador, a situação da saúde é a mais urgente entre as demais questões da cidade. "Faltam médicos, medicamentos e equipamentos. Os hospitais precisam de reformas e há poucos postos de saúde", disse.

Crivella tem como meta aumentar o alcance do Programa de Saúde da Família (PSF), do governo federal, dos atuais 5% para 70% da população. Pretende abrir mais postos de saúde nas áreas populares e oferecer um posto de atendimento especial a idosos em Copacabana, bairro com o maior número de pessoas da terceira idade do Rio.

A médica Jandira Feghali, candidata do PCdoB, chama a atual gestão da saúde de "criminosa" com resultados desastrosos. A ex-deputada federal lista uma série de deficiências, desde a cobertura insuficiente do PSF até o fechamento de maternidades e a má qualidade do atendimento prestado nos postos municipais de saúde.

O elevado número de mortes na última epidemia de dengue, diz Jandira, deveu-se justamente às restrições do atendimento básico, de responsabilidade do município. "As pessoas morriam nas filas das emergências dos grandes hospitais", disse. Diante do isolamento político de Maia durante suas três administrações, a candidata do PCdoB vê a necessidade de maior integração com os governos federal e estadual .

Entre as diversas propostas para o setor, ela destaca, além do fortalecimento à atenção básica, o atendimento à mulher, o planejamento familiar, a criação de um plano de cargos e salários aos profissionais da rede municipal e a introdução do atendimento de saúde nas escolas.

No programa de governo da deputada federal Solange Amaral, candidata do DEM, admite alguns dos problemas deixados por Maia. Solange prevê a construção de 25 postos de saúde em comunidades carentes, a implantação da marcação de consultas pela internet para impedir filas e a articulação com os governos federal e estadual. "Hoje, as três redes são concorrentes", diz a candidata democrata.

Sobre a dengue, ela minimiza a eventual culpa do atual prefeito. "A dengue é um caso nacional. O Rio de Janeiro passou por um momento difícil. Não dá para ficar partidarizando. Em 2002, o responsável era o Serra e agora passou a ser o prefeito. É preciso o envolvimento de todas as instâncias. O combate não pode ser somente municipal, tem que ser federal também", afirma. Assim como os demais candidatos, a candidata do DEM planeja ampliar a cobertura do PSF e buscar mais recursos do governo federal à área.

Para Eduardo Paes, candidato do PMDB e do governador do Rio, Sérgio Cabral, a saúde é a "prioridade absoluta" de sua plataforma de governo. "O grau de deterioração na saúde é muito alto", diz. Paes defende a maior integração com as outras esferas de governo e a instalação de 40 Unidades de Pronto Atendimento (Upa) com atendimento 24 horas, no modelo já implantado pelo Estado.

O candidato do PMDB propõe adaptar o PSF em uma rede de consultórios de família, pois enxerga dificuldades do médico encontrar todos os membros da família no momento da visita à residência. O projeto consiste no funcionamento de postos de atendimento com três turnos nas áreas mais carentes e a instalação de policlínicas para evitar as filas nas emergências dos grandes hospitais. Em relação à dengue, o peemedebista planeja aumentar o contingente de agentes comunitários para prevenir a proliferação do mosquito transmissor da doença.

O deputado federal Fernando Gabeira, candidato do PV, enfatiza a necessidade de recuperar a rede de hospitais, informatizar o sistema e coordenar a política municipal com as prefeituras da Baixada Fluminense. "Reduzir o déficit de quase 200 postos de saúde é outro ponto importante. Da mesma maneira, aumentar a cobertura do projeto Saúde da Família, hoje em torno de 5%, é fundamental, apesar dos investimentos de contrapartida que são necessários e do difícil acesso aos médicos em muitas comunidades cariocas", diz Gabeira em um trecho do seu programa de governo.

O candidato do PSOL, o deputado federal Chico Alencar, defende a abertura de emergências 24 horas nos postos de saúde, a realização de concurso público para contratar profissionais especializados e a adoção ampla do PSF, especialmente nas regiões mais pobres. "Temos prioridade absoluta na ampliação do PSF", acrescenta o candidato a prefeito do PT, o deputado estadual Alessandro Molon. O candidato também quer ampliar a rede de postos de saúde e organizar o sistema no município, incluindo as redes estadual e federal, como determina o Sistema Único de Saúde (SUS).

O candidato do PDT, o deputado estadual Paulo Ramos, ressalta a atual carência de integração entre as três esferas de governo e quer estabelecer um programa de distribuição de medicamentos conjunto. "É preciso descentralizar o sistema e levar pequenas unidades de atendimento às áreas mais pobres, com foco na saúde preventiva", disse.

O Valor ouviu os candidatos que registraram pelo menos 1% de intenção de votos na última pesquisa do Ibope.