Título: Combinação de juro real alto e bolsa atrai os japoneses
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 23/07/2008, EU & Investimentos, p. D2

Em Tóquio, a questão que Kenji Yamamoto, diretor da HSBC Global Asset Management mais ouve dos japoneses interessados em aplicar nos fundos brasileiros é: "O que é o Brasil?". "É difícil definir em poucas palavras, você pode dizer que a China é a fábrica do mundo, a Índia é o centro de tecnologia da informação, a Rússia é petróleo, mas o Brasil é muito diversificado", diz esse japonês que viveu no país por dois anos, até 1985, fala português e, desde então, trabalha com mercados emergentes.

Segundo Yamamoto, o potencial de investimento japonês no Brasil é muito grande. As pessoas físicas japonesas têm hoje cerca de US$ 15 trilhões em investimentos, metade (50%) dos quais em depósitos a prazo ou à vista, que pagam, em média, 0,5% ao ano ao investidor. Outros 10% estão em seguradoras, também em aplicações de baixo risco. "Com 60% em ativos de baixíssimo risco, sobram 40% dos recursos com os quais os investidores querem arriscar mais", diz.

Um sinal disso é que quase dois terços do patrimônio de US$ 1 trilhão dos fundos de investimento japoneses estão em ativos de outros países. Desse total, US$ 70 bilhões estão em emergentes. "Não é um percentual razoável se você pensar que os emergentes respondem por 50% do crescimento mundial e por 25% do valor de mercado global de ações", afirma.

Os investidores japoneses são, em geral, pessoas mais velhas, acima de 60 anos, e que procuram uma rentabilidade maior para uma parcela dos recursos, explica Yamamoto. "São também pessoas que conheceram o Brasil quando o país recebia muito investidor japonês nos anos 70", lembra. O centenário da imigração japonesa ajudou a divulgar o Brasil, mas os jovens ainda são minoria entre os investidores, diz Yamamoto.

Ele acredita que o interesse pelo Brasil cresceu também pelos problemas enfrentados por outros países, como China e Índia. No começo, os mercados indiano e chinês foram prioridade, por sua proximidade com o Japão. "Mas agora, que a bolsa chinesa caiu quase 50% e a indiana 40% em seis meses, o Brasil ganhou destaque", diz. Além disso, a inflação brasileira está mais controlada que a indiana, por exemplo, que já está em 12% ao ano, o que levou a agência de risco Standard & Poor's retirar a nota de grau de investimento de baixo risco da Índia.

O Brasil tem também uma taxa de juros reais elevada, que serve para atrair os investidores. "Países como Rússia têm uma inflação de 12% ao ano e ainda estão hoje com juros reais negativos", lembra ele. E, levando em conta os juros de 12% ao ano pagos pelo Brasil, em comparação com os 0,5% ao ano dos japoneses, o potencial de ganho compensa bem o risco, avalia Yamamoto. "Mesmo que você tenha uma desvalorização do real de 5%, ainda é vantagem", diz.

Yamamoto está no Brasil desde a semana passada com um grupo de representantes de grandes corretoras e bancos japoneses, além de executivos do HSBC do Japão, para conhecer melhor o país. Eles visitaram Itaipu e empresas como Petrobras e a Vale. Mas o que chamou mesmo a atenção dos japoneses foi a Embraer. "É impressionante o grau tecnológico, pena que não pudemos tirar fotos", diz ele. "É interessante ver como o Brasil é diversificado, apesar de 40% do valor da bolsa ser concentrada em petróleo, é muito menos que outros países, como Rússia, onde petróleo responde por 85% do valor de mercado", diz.

Na próxima semana, o HSBC estará lançando uma carteira de ações brasileiras, com pagamento de rentabilidade trimestral. No Japão, explica ele, em geral as pessoas aposentadas recebem benefícios a cada dois meses e procuram outros investimentos para receber alguma renda no intervalo dos pagamentos. O fundo brasileiro do HSBC, de US$ 1,4 bilhão, tem resgates anuais. É a maior carteira de ações dedicada ao Brasil. "Esperamos captar mais US$ 500 milhões nessa nova carteira em seis meses", diz.