Título: Curitiba avança na área educacional
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 23/07/2008, EU & Carreira, p. A10

Curitiba é a capital brasileira que registra o melhor resultado nas séries iniciais (1ª a 4ª série) do ensino fundamental, de acordo com o Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb) de 2007. Numa escala de zero a 10, a capital paranaense tirou nota 5,1 e já atingiu, no ano passado, a meta de qualidade para 2009, nos anos iniciais e finais do ensino fundamental. A escola municipal São Luís, por exemplo, obteve a maior média do estado: 7,1. O Ideb foi criado pelo Ministério da Educação e combina índices como rendimento escolar (taxas de aprovação, reprovação e abandono) e médias de desempenho.

Não por acaso, a cidade que também apresenta a menor taxa de analfabetismo do país- menos de 2% na população de até 15 anos ou 6.51% naqueles com 15 anos ou mais- também tomou para si o título de capital nacional de negócios na área educacional. É em Curitiba que nasceram e se baseiam duas das maiores referências do setor no desenvolvimento de produtos e serviços de educação: o grupo Positivo e o grupo Dom Bosco. Com metodologias próprias de ensino, ambos vivem um momento de expansão de seus negócios, seja do ponto de vista geográfico ou estratégico. O avanço está embasado, principalmente, no alinhamento crescente entre a tecnologia e o processo educacional.

Informatização, mobilidade e ensino a distância começam a causar uma ruptura no modelo convencional de ensino, mas sem tirar o professor da sala de aula. Na prática, a união tecnologia-educação se traduz em projetos de adoção de lousas eletrônicas e interativas nas salas de aula, o que dá mais recurso aos professores; e na idéia de trabalhar com um laptop por aluno. Com inovações, os dois grupos avançam no mercado educacional brasileiro, hoje composto por 35 mil escolas de ensino básico e cinco mil institutos superiores.

De olho no mercado corporativo, eles também aumentam suas apostas na educação executiva. Enquanto o Dom Bosco criou pós-graduações específicas em gestão estratégica socioambiental, administração global de negócios, gestão de pessoas e gestão em negócios internacionais, a Universidade Positivo inaugurou, em maio, sua escola de negócios. Trata-se de um ambiente onde o aluno pode aprofundar seus conhecimentos em áreas variadas como executiva, empreendedora ou acadêmica.

A nova unidade oferece graduação (administração, comércio exterior, marketing, economia, ciências contábeis e turismo) e pós em negócios, incluindo também as especializações e os programas de mestrado e doutorado. Os alunos da escola de negócios têm acesso ainda a um sistema de coaching personalizado, que os ajuda a traçar objetivos e metas para a vida acadêmica e profissional. Até os professores podem fazer uso do coaching personalizado para melhorar sua performance e garantir motivação constante no trabalho.

Fundado em 1972, como curso preparatório de vestibular em Curitiba, o grupo Positivo é um dos nomes mais fortes do setor. Com um faturamento de R$ 2,7 bilhões (40% superior a 2006), seus produtos e serviços educacionais atingem quase 10 milhões de alunos da educação infantil ao ensino superior. Em fevereiro, o grupo atingiu o ápice: conseguiu converter seu Centro Universitário Positivo em Universidade, em um complexo processo de credenciamento que teve início em 2005. "Nos últimos 10 anos, nenhuma nova universidade privada foi autorizada pelo governo federal", afirma Álvaro Augusto do Amaral, superintendente financeiro do grupo.

Com um campus de 422 mil metros quadrados, a universidade transformou-se em cartão-postal de Curitiba. São 11 mil alunos, 551 professores, 26 cursos de graduação em exatas, humanas e biológicas, mestrado e doutorado e convênio com 34 empresas e uma série de hospitais. Não por acaso, o reitor da universidade, professor Oriovisto Guimarães, é também o diretor-presidente do grupo, forte principalmente na produção e venda de material didático. Trata-se de um negócio forte para o grupo, que já atinge 3,8 mil escolas particulares e públicas de todo país e 19 escolas de 10 cidades do Japão.

"Ao exportar nossos produtos e serviços para quatro continentes, nós estamos colocando o Brasil no mapa internacional de tecnologia educacional", diz Rogério Mainardes, diretor corporativo de marketing do grupo Positivo.

O grupo também tem uma rede própria de escolas de ensino básico; curso preparatório para vestibular; uma editora que forma conteúdo para escolas privadas e públicas; uma gráfica que atende não só sua editora, mas também imprime tablóides para clientes como Casas Bahia e Carrefour; e a Positivo Informática, líder brasileira na venda de PCs. A educação também é foco da sua linha de computadores. Recentemente, ela lançou o Mobo, notebook de 1,1 quilo, tela LCD de sete polegadas e bateria de quatro horas. O produto que traz o dicionário Aurélio integrado custa R$ 999,00 e também tem uma versão para crianças, chamada Mobo Kids, com design diferente e resistência do teclado a líquidos.

Bem menor que o Positivo, mas muito conhecido no sul do país, o grupo Dom Bosco também vive um momento de pleno aquecimento. Nascido há 45 anos como curso preparatório para o vestibular, o Dom Bosco era, até então, um negócio que trabalhava com um sistema de ensino próprio que atingia 580 escolas privadas e 105 mil alunos de todo o país, desde o berçário até o ensino médio.

Como tem forte ênfase na região sul do Brasil- ela representa 50% do faturamento de R$ 76 milhões registrados em 2007-, acabou chamando a atenção do SEB (Sistema Educacional Brasileiro), de Ribeirão Preto, no estado de São Paulo. Afinal, além da expressividade na região, o Dom Bosco conta ainda com escolas, cursos pré-vestibular e dois campi de ensino superior, totalizando 12 mil alunos. Para atender todo este volume, ainda há uma editora e um parque gráfico próprios.

Em março, a SEB adquiriu o Dom Bosco por R$ 100 milhões. "A operação Dom Bosco é muito respeitada, mas não cresce de forma expressiva. Acreditamos que, com marketing e tecnologia, ela apresenta um grande potencial de crescimento para os próximos anos", afirma Nilson Curti, diretor-superintendente do SEB.

Ele lembra ainda que avançar no sul é tarefa árdua. Outras empresas do ramo tentaram, mas fracassaram. A proposta pedagógica da região tem outro estilo, foca muito no assessoramento ao professor, na sua preparação profissional e na abordagem de conteúdo.

A união gera um grupo de 400 mil alunos com tendência a inserir o Dom Bosco em alguns segmentos de educação onde ele se encontra ausente -caso do ensino a distância e fornecimento de material para escolas públicas. Com a compra pelo SEB, mudanças já começam a ser percebidas no dia-a-dia do Dom Bosco, com o anúncio do Programa Dom Digital, a ser implementado nas unidades do Colégio, em Curitiba.

Segundo Curti, o grande benefício do programa está no conceito de portabilidade. À medida que os alunos tiverem seus laptops, ele acredita que atividades cooperativas serão estimuladas dentro e fora do espaço escolar, como a participação dos alunos em fóruns, grupos de e-mail, chats, coleta de dados em diferentes ambientes, além de outras aplicações.