Título: MST desautoriza Rainha na Rocinha
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2008, Política, p. A9

José Rainha Jr.: "Sou do movimento, sou militante", diz líder do MST A direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) busca isolar a imagem do líder José Rainha Jr. da organização e nega ter participado das articulações do grupo dele na comunidade da Rocinha (RJ), em ações ligadas ao tráfico de drogas. Ao mesmo tempo, coordenadores do MST tentam evitar a crimininalização do movimento com o enquadramento de oito militantes na Lei de Segurança Nacional.

Rainha incentivou a candidatura a vereador do presidente da associação de moradores da favela da Rocinha, Luiz Cláudio de Oliveira (PSDC), como divulgado ontem pelo jornal "O Globo". Claudinho da Academia, como é conhecido, estaria impedindo a entrada de adversários na área e o curral eleitoral teria, segundo denúncias, apoio do tráfico.

A coordenação do MST desvinculou-se de Rainha e disse que "as articulações, pronunciamentos públicos e entrevistas dele na mídia" não são da responsabilidade do movimento. "Ele está afastado há um ano da direção, e não segue a orientação do MST. Não reconhecemos as ações dele", afirmou o integrante da coordenação, José Batista de Oliveira.

O advogado do MST, Aton Fon Filho, afirmou que não pode fazer nada diante das ações de Rainha. "Você vê um monte de gente com bandeira e camiseta do MST e não podemos impedir alguém de usar. Não podemos sair batendo, não podemos fazer nada", disse. Rainha comanda há anos ocupações de terra em São Paulo e apesar de ter sido afastado da direção, é uma das principais lideranças no Pontal do Paranapanema (SP). "O MST não pode mover ação contra ninguém", disse Fon.

Rainha defendeu-se e disse que não sabia da suposta vinculação de Claudinho com o tráfico. "Fui à Rocinha para desenvolver projetos sociais com os trabalhadores, falar sobre o PAC do governo federal. O Claudinho era presidente da associação e eu conversei com ele assim como o presidente Lula, quando foi à Rocinha", comparou. O líder social disse que ajudou a fundar o MST e que "faz o mesmo trabalho em sua comunidade que o MST faz no Brasil". "Sou do movimento, sou militante. Ser liderança social é uma conquista que minha história me deu."

Se por um lado o MST tenta isolar-se da imagem de Rainha, por outro quer evitar que um processo contra oito militantes criminalize o movimento. Nesta semana, pediu ajuda à OEA e à ONU. Organizações sociais como a Justiça Global e a Terra de Direitos, apoiadoras do MST, enviaram aos dois organismos internacionais denúncias sobre repressão, enquadramento de militantes e os relatórios do Ministério Público Estadual do Rio Grande do Sul que, segundo a entidade, tentariam "dissolver a organização dos trabalhadores."

O Ministério Público Federal em Caraizinho (RS) acusa os trabalhadores rurais de crimes contra a Lei de Segurança Nacional, que define os crimes contra a ordem política e social. A lei foi promulgada na ditadura. "As pessoas foram processadas porque são do movimento. Isso pode levar à criminalização de todo o MST", criticou Fon. "Se permitirmos a criminalização há riscos de abrir precedente para outros movimentos populares", disse Oliveira.

Ontem, outro problema atingiu o MST. A Justiça Federal de Marabá condenou líderes da entidade no Pará a pagar R$ 5,2 milhões à Vale do Rio Doce, pela interdição da ferrovia de Carajás, em abril. Durante a invasão, foram incendiados dormentes da ferrovia, cabos de fibra ótica e de energia cortados e trilhos levantados. O MST vai recorrer e a Vale não comentou a decisão. (Com agências noticiosas)