Título: Indicadores sugerem pouso forçado da economia na UE
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Fonte: Valor Econômico, 25/07/2008, Internacional, p. A11
Vários dados apontam que a economia européia está se dirigindo para um "pouso forçado", perdendo força à medida que aumentam os riscos recessivos. Segundo o jornal britânico "Financial Times", as perspectivas de crescimento na região estão despencando. Uma recessão zona do euro reduziria ainda mais a demanda nos países ricos e poderia ter impacto forte nas economias emergentes.
Em visita esta semana ao Brasil, o economista americano Paul Krugman afirmou que a desaceleração nos EUA poderia ser bem assimilada pelo resto do mundo, mas que um quadro recessivo simultâneo nos EUA e na Europa, as duas maiores economias globais, traria dificuldades muito maiores para os emergentes.
Os indícios da freada brusca na Europa constam de importantes relatórios divulgados ontem: o índice de gerentes de compra (PMI), tido como um bom indicador da tendência de crescimento, mostrou que a atividade do setor privado registrou contração pelo segundo mês consecutivo; e os índices de confiança do empresariado na Alemanha, na Itália e na França caíram, com o resultado alemão em relação às perspectivas para o segundo semestre em seu pior patamar em seis anos.
Os resultados sugerem que a zona do euro foi atingida pela turbulência dos mercados financeiros de forma tão grave quanto os EUA e o Reino Unido, além de mostrarem que os efeitos da alta do petróleo estão sendo sentidos.
"A queda está ganhado mais velocidade do que esperado", disse Chris Williamson, economista-chefe da Markit, que compila o índice de gerentes de compra com o Royal Bank of Scotland.
A escala da desaceleração deve fazer com que o Banco Central Europeu (BCE) suspenda sua política de aumento de juros, dizem analistas. Atualmente, sua taxa referencial de juros está em 4,25%.
A queda nos custos de energia podem melhorar a confiança dos investidores nas próximas semanas. Há a expectativa de que os próximos relatórios de atividade econômica registrem surpresas positivas. Com a exceção da Espanha - atingida por uma crise em seu mercado imobiliário -, os grandes países da zona do euro não estão passando por desequilíbrios econômicos tão grandes quanto os dos EUA, disse Dirk Schumacher, da Goldman Sachs. Depois de um fraco terceiro trimestre, a zona do euro pode "ver um aumento gradual do ímpeto".
Na Alemanha, o índice do instituto Ifo sobre a confiança dos empresários alemães caiu para o menor valor em quase três anos: de 101,2 pontos em junho para 97,5 pontos em julho. O sub-índice que avalia as condições atuais caiu para 105,7 pontos (contra 108,4), enquanto o que incide sobre as perspectivas desceu de 94,7 pontos para 90 pontos, o mais baixo patamar desde novembro de 2002.
A confiança do empresariado francês caiu para o menor patamar em três anos, segundo o instituto de estatística. Na Itália, o índice de confiança do empresariado foi o mais fraco desde outubro de 2001.
A Espanha divulgou ontem que o desemprego no segundo trimestre subiu para 10,4%, o maior nível em três anos e meio, contra 9,6% do primeiro trimestre. O governo espanhol reviu para baixo suas projeções de crescimento, para 1,6% este ano e 1% em 2009. Uma sondagem feita pela agência de notícias Bloomberg com economistas espanhóis mostrou que a maioria acredita que há 50% de chances de o país entrar em recessão.
A escala da desaceleração deve impedir o Banco Central Europeu de elevar novamente os juros, dizem analistas. Este mês o BCE elevou a taxa referencial em 0,25 ponto, para 4,25%, num tentativa de conter a crescente inflação na zona do euro.