Título: Anfavea revê cálculos e amplia a previsão de investimentos
Autor: Olmos , Marli
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2008, Empresas, p. B7

Schneider, da Anfavea: "A condição macro-econômica é um mundo em expansão que compra tudo o que a gente vende" Nos últimos tempos, o dia-a-dia na sede da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos) está mais movimentado. Os visitantes que passaram a freqüentar a casa na Zona Sul de São Paulo são representantes de empresas, do Brasil e do exterior, que buscam dados e opiniões sobre o crescimento do setor. Como se não bastasse, Jackson Schneider, presidente da entidade, e sua equipe econômica também passaram a gastar mais tempo refazendo as contas dos novos investimentos. O cálculo divulgado no final do primeiro semestre de que montadoras e autopeças gastariam US$ 20 bilhões entre 2008 e 2011 tem sido superado quase diariamente.

"A diferença entre o último ciclo de investimentos, por volta de 1996, e o atual é que naquela época os programas foram feitos para um crescimento de mercado que ainda estava para acontecer; os de hoje são para um mercado que já existe", define Schneider, que ainda não fechou a nova conta.

Não são apenas investimentos grandes de montadoras, como a Toyota, que deverá gastar pelo menos US$ 1 bilhão para produzir no mínimo 150 mil veículos por ano na fábrica que a vai erguer até 2011. É preciso, explica o presidente da Anfavea, somar cada milhar que empresas de menor porte que compõe a cadeia produtiva de veículos também estão gastando.

Dentro de alguns dias, a entidade que representa as montadoras pretende divulgar um novo cálculo. Enquanto isso, continua a receber os visitantes, incluindo aí os executivos chefes de multinacionais que ainda não se instalaram no país, que querem saber da entidade por que apostar no Brasil é um bom negócio.

É bem provável que entre esses visitantes apareçam futuros associados da Anfavea. Outra diferença em relação ao último ciclo de investimentos, que trouxe novos fabricantes, como as marcas francesas e japonesas, é que agora o ritmo está mais acelerado.

Dados da Anfavea mostram um súbito crescimento dos volumes de investimentos. Depois de sair de médias acima de US$ 2 bilhões, no final da década de 90, fabricantes de veículos e de peças passaram, juntos, a investir médias em torno de US$ 1 bilhão - e até menos - entre 2002 e 2006. Já em 2007, o total de recursos passou de US$ 2 bilhões e o previsto para 2008 chegará ao recorde de US$ 4,9 bilhões.

A meta inicialmente traçada pela Anfavea prevê um acúmulo de investimentos de US$ 19 bilhões entre 2007 e 2013, quando, estimam os representantes da indústria, a produção de veículos no país alcançará 5,1 milhões. Schneider lembra que esse volume representa um acréscimo de mais de 1,5 milhão de unidades por ano em relação ao ritmo de hoje.

O executivo diz que, ao mudar de patamar, a produção brasileira de veículos requer um suporte ao crescimento. Esse apoio se sustenta em bases que dependem, em boa parte, do governo, segundo a visão da indústria. Uma infra-estrutura para ampliar vias adequadas de suprimento e de expedição representa a maior preocupação. Mas o executivo cita, ainda, a necessidade de desburocratização, por meio de novos e ágeis canais para exportação, importação e tributação. Sem contar com a necessidade de centros de tecnologia e de qualificação de mão-de-obra.

Medidas governamentais como a recente alta nas taxas de juros são vistas pelo setor como circunstanciais e não como um freio a essa tendência de crescimento. "Mas é preciso que o Banco Central consiga uma sintonia fina para que as medidas monetárias para conter a inflação não atrapalhem os planos de investimento", destaca, alertando, também, para a necessidade de um esforço para a redução do gasto público.

O dirigente argumenta que todos os investimentos que as empresas do setor fazem hoje foram calculados com base em análises de longo prazo. E aí entra o ambiente favorável, segundo ele, não apenas para o setor automotivo. "A condição macro-econômica é um mundo em expansão que compra tudo o que a gente vende", afirma Schneider.

Hoje o Brasil tem oito habitantes por veículo. Na vizinha Argentina a relação é de cinco para cada veículo. A equipe econômica da Anfavea calcula, com base na expansão de vendas e as previsões do crescimento populacional do IBGE, que o Brasil vai levar oito anos para alcançar a média argentina.