Título: A ressaca do Copom
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2008, EU & Investimentos, p. D1
O mercado de renda fixa anda em polvorosa neste ano. Depois da expansão do crédito, repiques de inflação, crise mundial e aperto de juros, a última grande novidade foi a aceleração do aperto pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na quarta-feira, que colocou mais lenha nessa fogueira do mercado. Os investidores agora podem surfar em ondas mais altas com a taxa Selic a 13% ao ano, que deve ajudar a controlar a inflação e elevar os juros reais.
Atualmente, o mercado financeiro projeta que o retorno real do juro corrente chegará a 8,8% nos próximos 12 meses - ganho que fica ainda mais atraente com o vacilante retorno projetado para a bolsa. A mão forte do BC também agitou as taxas prefixadas, criando oportunidades para quem queira apostar no longo prazo, mas aceite o risco de diversas variáveis levarem esse aperto a níveis acima do previsto.
São duas as posições que os investidores podem tomar neste momento na renda fixa. A agressiva é se arriscar nas atraentes taxas prefixadas, mas que podem subir ainda mais. E a defensiva - o que não quer dizer pouco lucrativa - é aproveitar o bom momento dos fundos DI, que seguem o juro corrente e, portanto, têm menor risco.
"O ganho real do DI no curtíssimo prazo vai ser mais alto", diz Paulo Clini, gestor de renda fixa da Western Asset Management. Para ele, o BC eximiu do mercado uma incerteza de até quando a inflação poderia seguir em alta e corroer o ganho real das aplicações. "O governo fez, pelo menos, com que as expectativas quanto à inflação parem de subir." Outro sinal de que o ganho real deve ser mantido é a sinalização nas últimas semanas de freio e reversão da alta do preço das commodities no mundo.
Não há tanto apelo para estratégias ativas de gestão de renda fixa, quando se tem uma taxa de juro que poderá bater em 14,75% ao ano no curto prazo, diz Renato Ramos, diretor de renda fixa da HSBC Global Asset Management no Brasil. "O fundo DI é uma alternativa que rende bem, com pouca volatilidade e baixíssimo risco", completa ele.
As variáveis nacionais e internacionais que têm levado a esse aperto da política monetária pelo Copom são diversas e não dá para descartar novos estresses vindos de fora, diz Plínio Chap Chap, professor de finanças da Brazilian Business School (BBS). Também para ele, a pessoa física deve concentrar suas aplicações de renda fixa em fundos DI, mais seguros. "Uma taxa prefixada que hoje parece alta amanhã pode deixar de ser."
Porém, para Ettore Sollito Marchetti, gestor dos fundos de renda fixa da Credit Suisse Hedging-Griffo (CSHG), há muita gordura nos títulos de longuíssimo prazo, para além de 2010. "Há sinais claros de arrefecimento da economia, pelos números da indústria e do crédito, e de que a inflação começa a recuar." Além disso, a aceleração do aumento do juro reforça a tese de que esse ciclo vai ser mais curto, porque o BC estaria se antecipando - ontem, as taxas prefixadas mais longas caíram, enquanto as de curto prazo subiram.
A taxa de um título prefixado com vencimento em 2010 fechou o dia ontem em 14,85% ao ano. A do papel de 2012, em 14,26% ao ano. Isso significa que o investidor pode garantir de hoje até janeiro desses anos o retorno indicado por esses contratos. O problema é saber se isso vai ser bom até lá. Se inflação e juro subirem mais, essa poderá ser uma péssima aposta. Mas, se a Selic e os preços recuarem, ganhará quem garantir o seu retorno futuro a partir de hoje.
O investidor que apostar na taxa prefixada ou em títulos atrelados à inflação - que também contam com uma variável prefixada - devem estar dispostos também à chuvas, tempestades e fortes oscilações nos papéis. Apesar de a taxa estar garantida no momento da aquisição do título, ela varia diariamente. Essa atualização diária dos preços dos títulos - chamada de marcação a mercado - trouxe bom impacto às cota dos fundos ontem. Na Western e na CSHG, que apostavam no aperto maior, como veio, houve ganho nas cotas ontem. No entanto, pode ter havido perdas pontuais em alguns fundos, dependendo da estratégia adotada pelo gestor. Os dados de todo setor serão revelados hoje.
Se o investidor adquirir um título federal pelo Tesouro Direto, porém, poderá esquecer dessa variação diária do papel se carregá-lo até o vencimento. No entanto, se desejar se desfazer da aplicação ao longo do período, terá de aceitar o valor corrente pago pelo mercado, que pode embutir taxa prefixada acima ou abaixo daquela por ele adquirida, ou seja, ele pode lucrar mais ou menos do que o previsto.
Para quem estiver posicionado em taxas pós-fixadas, portanto, quanto mais o juro subir, melhor será o ganho. Mas, para quem embarcar no risco das prefixadas, são duas as perguntas fundamentais: até onde e até quando o BC vai elevar os juros? "Eles vão fazer o que for preciso para manter a inflação sob controle", diz Alexandre Maia, gestor da GAP. "O BC mostrou seriedade ao elevar o juro em 0,75 ponto, mas isso não quer dizer que o aperto passará logo", completa.
Com o aumento do juro, os títulos de renda fixa emitidos por entidades privadas perdem atratividade, diz Clini, da Western. "O aumento do juro leva a uma desaceleração econômica e a um encarecimento da dívida que pode colocar essas empresas em situação mais complicada", diz. "Vale a pena esperar mais um pouco antes de tomar atitudes de maior risco", comenta ele.