Título: Maior competição pode reduzir as taxas cobradas dos lojistas
Autor: Júnior , Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2008, Finanças, p. C1
O crescimento do mercado de cartões de crédito, sempre acima dos 20% ao ano, está mudando a cara das empresas que operam no setor, principalmente das companhias que credenciam estabelecimentos comerciais para as bandeiras e das que processam as operações para os bancos e lojas. A maior competição, com mais bancos credenciando pontos comerciais, deve levar à queda das taxas cobradas das lojas e bares em cada transação, que estão na casa dos 2,8%, mas que podem chegar aos 5%.
A Redecard, principal credenciadora para a MasterCard, resolveu trabalhar com outros bancos. O Tribanco (do Grupo Martins, atacadista com atuação forte no Triângulo Mineiro), já credencia em nome da Redecard. A estratégia da empresa é atrair outras instituições, como Banco do Brasil, Banco Real e Bradesco.
Quando um estabelecimento comercial decide aceitar cartão de crédito (ou débito) é preciso abrir uma conta-corrente no banco emissor. Em geral, o banco que trabalha com Visa exige uma conta e o que trabalha com a MasterCard exige outra. Assim, em muitos casos o lojista tem que abrir duas ou mais contas em bancos diferentes para poder trabalhar com várias bandeiras, fora ter que alugar várias máquinas leitoras de cartões (POS).
Segundo o presidente da Redecard, Roberto Medeiros, buscar outros bancos além de aumentar a rede de estabelecimentos afiliados tem como objetivo facilitar a vida para o comerciante, pois ele não precisa ficar abrindo várias contas em vários bancos. Com uma mesma instituição afiliando para as duas bandeiras, o lojista abre uma só conta.
O Itaú anunciou, na semana passada, que passou a oferecer aos seus clientes uma única conta para gerenciar as duas redes (VisaNet e Redecard) e com isso garantir taxas e limites mais vantajosos aos clientes. O Bradesco contra-atacou e afirma oferecer, além das duas redes em uma única conta, a da American Express, adquirida pelo banco em 2006.
Além dessa mudança, a Mastercard distribuiu licenças para outros bancos credenciarem estabelecimentos em seu nome. HSBC e Santander já têm essa licença. Isso significa que eles podem ter redes próprias para aceitarem os cartões da bandeira. Com isso, a Redecard passa a ser a principal credenciadora da MasterCard no Brasil e não mais a única, como era no passado. Os dois bancos e a MasterCard foram procurados pelo Valor, mas não quiseram se pronunciar.
Fontes ouvidas pela reportagem dizem que o investimento para se montar uma rede é alta, com pesados gastos em tecnologia, o que pode desencorajar os bancos a montarem rede própria. Boanerges Ramos Freire, sócio da Boanerges & Cia, consultoria especializada em meios de pagamento, lembra que, apesar dos altos gastos, é um investimento extremamente rentável para os bancos. Basta olhar a rentabilidade patrimonial da Redecard e VisaNet, na casa dos 150%.
De olho no crescente mercado brasileiro de meios eletrônicos de pagamento, a americana Tsys, especializada no processamento de operações, desembarcou no país há alguns anos, mas ficou um bom tempo parada, analisando o mercado, que é bem diferente do americano. Lá, existem uma centena de credenciadores para as bandeiras.
Agora, a Tsys resolveu se mexer e negocia aquisições no mercado. Comenta-se que ela estaria comprando a GetNet, empresa gaúcha que tem uma rede interligando 110 mil estabelecimentos e oferece diversos serviços a varias bandeiras regionais e empresas do setor.
Também comenta-se no mercado que a Tsys negocia a compra da Conductor, processadora de transações para cartões de varejo (conhecidos como "private label"), que pertence ao fundo de private equity TMG (com 51% do capital). Em recente entrevista ao Valor, Bob Evans, responsável pela área de expansão de negócios da Tsys, disse que a empresa está interessada em aquisições ou associações no Brasil. A idéia é atuar como um processador de serviços de credenciamento - que faz a parte operacional, como a sinalização de lojas, treinamento de lojistas e autorização das transações. No Brasil, a maioria das processadoras atua para os bancos emissores dos cartões, como a Orbital (Itaú) ou a Fidelity (Bradesco, Banco Real e Banco do Brasil). "Estamos na véspera da abertura das credenciadoras para outros parceiros, o que viabiliza o aparecimento de novas empresas", diz Boanerges.
No caso da VisaNet, que credencia para a Visa, a relação com a bandeira ainda é de exclusividade. Segundo seu novo presidente, Rômulo de Mello Dias a estratégia da empresa é desenvolver novos tipos de produtos para os clientes. Na maioria das vezes, são produtos criados para um único cliente. Ele cita como exemplo a rede de comida rápida McDonald's.
A VisaNet desenvolveu um POS diferente para a rede, que vai ser útil nos horários de pico. Na própria fila, é possível fazer o pedido e pagar, tudo por meio da máquina leitora, que tem um programa que envia o pedido do cliente para a cozinha do restaurante e faz o pagamento. O produto está em teste em um loja em São Paulo, mas a Visa gostou da idéia e tem a intenção de levar esse tipo de POS para outros países. Para os táxis, que ficam longas horas no trânsito das grandes cidades, foi desenvolvida uma máquina leitora sem bateria, que funciona no acendedor de cigarros.