Título: O responsável pela recuperação
Autor: Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 28/02/2011, Cidades, p. 23

ENTREVISTA - RUBEM FONSECA

Como o senhor encontrou a CEB mais de uma década depois de deixar a presidência da empresa? Deixamos a CEB premiada, saneada. Era a melhor empresa de energia do Brasil. Agora estamos bastante entristecidos. A empresa está numa situação extremamente grave, com uma dívida enorme, de R$ 800 milhões. O sistema elétrico da CEB está há muitos anos com baixos investimentos que não acompanharam o aumento da demanda. O cliente hoje é muito mais exigente, não aceita mais interrupções constantes de energia com longa duração. Por isso, há uma imagem negativa. Situação muito adversa.

Será necessário vender o patrimônio da CEB para recuperá-la? O patrimônio da CEB, do negócio de energia, não precisaremos abrir mão. Mas terrenos poderão entrar como garantia nessa equação econômico-financeira que vamos aplicar. O objetivo do plano é alongar essa dívida pelo período de 20, 30 anos e poder usar o faturamento da CEB para investir.

Há risco de perda da concessão? A concessão vai até 2015. O processo da renovação começa em 2012. Risco, temos. Mas acredito que estamos preparados para enfrentar esse desafio. A CEB tem força econômica para se apresentar bem e renovar a sua concessão.

O que provocou essa situação difícil? A forma da gestão foi de irresponsabilidade, de promiscuidade no governo, que solicitava obras e serviços da CEB sem pagar por isso. Havia uma cultura de não pagar consumo, obras e serviços. Quero registrar que, no governo Agnelo, isso está sendo normalizado.

Houve investimento equivocado em geração de energia? A CEB tem que estar em todo o negócio, de geração a distribuição. Mas retiraram recursos da CEB Distribuição e colocaram em geração. O aporte deveria ter sido feito pelo governo. Acredito que havia premeditadamente uma gestão para que essa situação se agravasse e se criasse situação favorável para privatização da empresa.

Muito se falou que a CEMIG poderia comprar a CEB, o senhor acredita que essa operação estava em curso? Constatamos que houve um período em que técnicos da CEMIG vistoriaram contas, balanços, fluxos de caixas. Só podia ter sentido que estava em gestação alguma negociação da CEB para a CEMIG e que havia ações políticas por trás disso.