Título: Porto seguro contra grandes oscilações em tempos de incerteza
Autor: Santiago , Rosângela
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2008, Especial, p. F6

Peterson Berton Cini começou a investir em imóveis em 2000 e hoje tem dez casas, todas locadas para terceiros Entre os investimentos disponíveis, a opção por imóveis tem forte apelo entre as famílias brasileiras na formação de patrimônio. Investir em imóveis tem suas vantagens em relação a outros tipos de aplicações, como a ausência de riscos de perda do bem e a solidez contra confiscos. A sensação de posse física - sua base é tijolo - é outro atrativo, seja para compor a renda mensal por intermédio do aluguel, comprar na planta e vender depois da entrega embolsando uma possível valorização, ou constituir um legado considerado seguro. Quando as aplicações em fundos e bolsas de valores passam por fase de turbulências, como ocorre atualmente, a procura por imóveis também costuma avançar.

De acordo com o Sindicato da Habitação (Secovi-SP), o indicador de desempenho Vendas Sobre Oferta (VSO) de propriedades foi de 14,8% em abril, a segunda melhor performance do ano. O total entre janeiro e abril foi 40,6% superior ao verificado em igual período de 2007. Em valores, foram movimentados R$ 3,6 bilhões, com crescimento de 39,8% no volume transacionado em relação ao mesmo período do ano passado. A produção imobiliária também cresceu. Segundo a Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), 8.653 unidades foram lançadas na capital paulista de janeiro a abril, contra o lançamento de 7.334 habitações nos quatro primeiros meses de 2007. Ou seja, incremento de 18%.

Klaus Monteiro, gerente comercial da regional de São Paulo da Incorporação Rossi, a maior procura tem se centralizado em construções comerciais. "No último lançamento que fizemos em Guarulhos, 60% das vendas foram concluídas em 20 dias, lideradas por investidores. Até empreendimentos futuros têm demanda por aplicadores, como é o caso de um prédio em Osasco, que tem 50% das consultas recebidas por parte de aplicadores", justifica. "Empreendimentos novos, comerciais ou residenciais, são considerados bons investimentos porque somente entre a construção e seis meses após a entrega das chaves contabilizam uma valorização de mercado de 20%."

Para muitos, essa é uma das aplicações mais seguras, ainda que tenham que recorrer a empréstimos, como mostram os dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), cujo volume liberado em empréstimos imobiliários com recursos da poupança atingiu R$ 2,27 bilhões em maio deste ano. O número de imóveis financiados alcançou 22.069 unidades, o mais elevado dos últimos 20 anos. O resultado de maio de 2008 supera em 57,8% o montante no mesmo mês de 2007. Com o desempenho, as contratações dos primeiros cinco meses de 2008 atingiram R$ 9,74 bilhões, superando em 75,9% as do mesmo período do ano passado.

A facilidade na obtenção de crédito, prazos mais longos e juros menores têm impulsionado o crescimento do setor imobiliário no país. O técnico em telecomunicações Peterson Berton Cini, 36 anos, começou a investir em imóveis em 2000, quando as facilidades de crédito começaram a ser ampliadas. Iniciou com a aquisição de uma casa na zona leste de São Paulo e hoje conta com dez, todas locadas para terceiros. "A rentabilidade no aluguel a partir de 0,7% do valor do bem e a valorização ajudam a pagar os investimentos, tornando-se assim, um bom negócio", argumenta.

Especialistas recomendam que, para quem queira viver de renda, a melhor opção é optar pela diversificação de imóveis, ou seja, vários imóveis possibilitam a garantia de retorno mesmo se algum deles estiver desocupado. Além disso, imóveis menores, de até dois cômodos, são os mais procurados para locação. Como o valor do aluguel desses imóveis é menor, o prazo médio de espera para locação é de 30 dias, sendo maior entre os apartamentos que entre as casas. Assim, o proprietário não precisa arcar com os custos da propriedade, como taxas e impostos, por muito tempo.

Essa é a escolha do investidor, cujo aluguel cobrado pelas suas propriedades varia entre R$ 300,00 e R$ 400,00. "Acredito que assim tenho caminhos alternativos até se precisar vender alguma construção, pois sendo de baixo valor, a venda tende a ser mais rápida. Mantenho sempre a vista potenciais compradores", afirma Berton Cini.

O setor imobiliário tem chamado a atenção de pessoas de outros mercados, como é o caso do ex-empresário do ramo de têxtil, João Silva, 53 anos. Cansado do que classifica como concorrência desleal dos produtos chineses, Silva se desfez do negócio e optou por investir em imóveis no litoral de São Paulo. "Comecei comprando uma casa, depois outra. Também já construí outras duas, descobrindo um lado de arquiteto. Há obstáculos como qualquer outro mercado, mas traz benefícios além do dinheiro. O segmento imobiliário representa combinar uma fonte de renda menos estressante com aposentadoria e novas conquistas pessoais."

Entretanto, o bom senso recomenda que o investimento seja feito de forma combinada com outros produtos mais ousados. O gerente-executivo da área de alta renda do Banco do Brasil, Osvaldo Cervi, lembra que existem as aplicações alternativas, como os fundos imobiliários, que são interessantes e tão seguros quanto a compra direta de imóveis. "O patrimônio tem que estar equilibrado e todos os riscos têm de ser considerados, pois a venda de um imóvel não se faz do dia para a noite e as pessoas precisam ter recursos de fácil acesso para se viver bem e arcar com as necessidades", argumenta o gerente.