Título: Argentina e Venezuela resistem a concessões
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Fonte: Valor Econômico, 21/07/2008, Brasil, p. A3

As tarifas de importação de automóveis, calçados e têxteis no Brasil podem cair de 35% para 23,6% no cenário de liberalização mais ambiciosa na negociação industrial da Rodada Doha esta semana, de acordo com cálculos de negociadores. No entanto, os países industrializados consideram o percentual insuficiente, enquanto a Argentina acha que é alto demais e que o Mercosul não tem como aceitar esse tipo de concessão.

Mais uma vez a Argentina e a Venezuela deixaram claro a resistência a se mover na área industrial, enquanto o Brasil, África do Sul e outros emergentes mostram-se mais moderados na tentativa de acordo em Doha. A posição da Argentina e da Venezuela não prevaleceu ontem quando o chamado grupo Nama-11, de 11 países em desenvolvimento, procurou delinear a estratégia para a negociação que começa hoje. Os dois ficaram isolados, segundo negociadores.

O ministro argentino, Jorge Taiana, foi o primeiro a se manifestar ontem, exigindo posição dura do Nama 11, apontando enorme desequilíbrio entre o que os desenvolvidos querem dos emergentes e oferecem, por sua vez.

O ministro de Comércio da Venezuela, William Contreras, reforçou a posição argentina. Brasil, África do Sul e outros moderaram o tom e o comunicado que deveria ser divulgado foi "aguado". A Índia ficou calada, em meio a suspeitas de que realmente não tem interesse em fechar a rodada.

Os representantes argentinos negam oficialmente divergências com o Brasil. Argumentam que foi Brasília que apresentou formalmente proposta na Rodada Doha para que o Mercosul tenha flexibilidade adicional para proteger 16% das linhas tarifárias. "O que vale é o que está escrito", disse o subsecretário de Comércio Internacional, Nestor Stancanelli. Negociadores de países industrializados acham que essa demanda é exagerada. Outros acham que a Argentina sobe o tom para obter concessões do Brasil na lista dos setores industriais sensíveis que terão proteção.

Para analistas, a questão é até que ponto Buenos Aires manterá a firmeza em Genebra. Em certo momento, dependendo do rumo das negociações, a presidente Cristina Kirchner será acionada para tomar uma decisão de flexibilizar ou quebrar a rodada. Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que a proposta do Mercosul corta em 35% as tarifas aplicadas nos produtos industriais mais sensíveis. (AM)