Título: Inflação pode alterar freqüência de reajustes
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 21/07/2008, Brasil, p. A4

Anos seguidos de inflação baixa fizeram com que as empresas brasileiras passassem a reajustar os preços com menor freqüência - em média, a cada dez meses -, aproximando-se dos padrões observados em economias desenvolvidas, como os Estados Unidos e países da Europa. Mas o recente surto inflacionário, se não for contido rapidamente, poderá fazer as empresas voltarem a remarcar com mais freqüência.

É o que mostra um estudo feito pelos economistas Marcelo Moura e José Luiz Rossi, do Ibmec São Paulo, a partir de questionários respondidos por uma amostra de 281 empresas, selecionadas de forma a representar a economia como um todo. O trabalho é uma fotografia da política de preços adotada pelas empresas em 2006, quando a inflação foi de apenas 3,14%, a mais baixa do regime de metas de inflação.

A rigidez dos preços tem implicações importantes para a política monetária. Significa que demora mais para os surtos inflacionários se espalharem para todos os preços da economia. Mas, por outro lado, quando o BC busca taxas mais baixas de inflação, tem de manter juros altos durante mais tempo para atingir os efeitos desejados.

"Se a pesquisa fosse refeita com dados mais atuais, certamente descobriríamos que, com a aceleração da inflação, as empresas passaram a reajustar os preços com maior freqüência", afirma Moura. Só não dá ainda para saber exatamente o quão freqüentes os reajustes de preços se tornaram - no futuro, isso será possível, já que o objetivo é dar continuidade à atual linha de pesquisa, verificando como a política de preços das empresas muda ao longo dos anos.

Um indicador que pode dar uma idéia da generalização - ainda que diga pouco sobre a freqüência - dos aumentos de preços é o índice de difusão do IPCA, que foi de 67,1% em junho, acima da media histórica, de 61,9%

Moura diz que, em tese, a aceleração inflacionária, por si só, não leva automaticamente a uma mudança significativa na freqüência dos reajustes. Existem fatores que fazem as empresas segurarem os reajustes, como a necessidade de negociar com clientes e os custos gerenciais para a tomada de decisões. Na literatura econômica, é muito discutido o chamado custo de menu, ou seja, a despesa que os restaurantes têm que fazer cada vez que imprimem os cardápios.

Rossi pondera que esses custos são o tempo todo confrontados com a perda de receita que a empresa sofre ao não reajustar os preços com maior freqüência. "Se a inflação se torna persistente, a empresa passa a reajustar mais os preços", diz Rossi. "Por isso é que é importante o BC não acomodar a alta da inflação."

No Brasil, o estudo sobre a rigidez de preços ainda está apenas no começo. Em outros países, sabe-se o nível de inflação que altera o comportamento da empresas. No México, por exemplo, os preços são reajustados em média a cada oito meses, freqüência muito parecida com a dos Estados Unidos. Quando a inflação anual fica numa faixa entre 10% e 15%, essa freqüência de reajustes não se altera de forma significativa.

A pesquisa do Ibmec mostra que no Brasil a freqüência dos reajustes difere de acordo com os setores. O comércio reajusta os preços a cada seis meses. Agricultura e produtos alimentícios fazem aumentos a cada oito meses, e a indústria, a cada 11,5 meses. O intervalo mais longo é o dos serviços, com 12,2 meses. É por causa da maior rigidez que a inflação de serviços ficou sempre acima da meta de 4,5% nos últimos anos, apesar do aperto na política monetária entre 2004 e 2005.

O trabalho mostra que, embora na média os reajustes de preços ocorram a cada dez meses, eles variam muito de empresa para empresa. O desvio padrão dos reajustes é de 8,1 meses, o que significa que uma boa parte dos reajustes ocorre em freqüências que variam entre 2 e 18 meses. O estudo constatou que, além dos setores da economia, a freqüência dos reajustes de preços é determinada por fatores como o intervalo entre os reajustes salariais, nível de competição no segmento (quanto mais competitivo, mais reajustes) e a sensibilidade da demanda aos reajustes de preços (se o consumidor pára de comprar quando os preços sobem, as firmas reajustam menos).