Título: Cimenteiras investem R$ 5,5 bi
Autor: Boechat , Yan ; Ribeiro , Ivo
Fonte: Valor Econômico, 21/07/2008, Empresas, p. B1

Pega de surpresa por um crescimento abrupto e inesperado do consumo, a indústria brasileira de cimento está iniciando um novo ciclo de investimentos bilionários que vai ampliar a capacidade de produção do país em mais de 35% nos próximos três anos a quatro anos e consolidar o Brasil como um dos dez maiores produtores do mundo. Os aportes para expansão ou construção de novas fábricas anunciados até o momento pelas principais empresas do setor já somam mais de R$ 5,5 bilhões e a expectativa é de que esses valores cresçam nos próximos meses por conta de novos aportes que devem ser definidos.

Com os investimentos que estão em curso, o Brasil deve chegar em 2012 com uma capacidade de produção superior a 80 milhões de toneladas. Hoje, se todas as fábricas brasileiras produzissem no limite conseguiriam colocar no mercado 60 milhões de toneladas ao ano. A expectativa do setor é de que o consumo saia do patamar histórico de 40 milhões, em 1999, para mais de 60 milhões de toneladas em 2011.

O avanço da demanda está sendo puxado, nesse momento, pela forte expansão do setor imobiliário como um todo. Só em 2007, as 21 construtoras e incorporadoras que foram à bolsa nos últimos dois anos colocaram no mercado mais de R$ 25 bilhões em imóveis novos no país. Além disso, os juros menores e o crescimento na renda aqueceram também o que o mercado costuma chamar de construção informal, pequenas obras residenciais feitas ou gerenciadas de forma independente por pessoas físicas. Hoje, mais de 60% da produção de cimento no Brasil é vendida em sacos de 50 quilos nas milhares de lojas de construção espalhadas pelo Brasil.

Ao mesmo tempo, as obras de infra-estrutura vêm ganhando fôlego com o Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal. Pontes, estradas, barragens e uma infinidades de pequenas construções estão, também, demandando o setor. Além, é claro, das obras industriais que cresceram de forma também inesperada, puxando demanda das cimenteiras, por conta da expansão econômica acelerada dos últimos dois anos.

Com a expectativa de que o consumo deve crescer 12% este ano sobre uma expansão de 10% de 2007, as empresas decidiram abrir os caixas para evitar que o descompasso entre uma capacidade produtiva estagnada e uma demanda extremamente aquecida se torne um problema de fato. "O setor percebeu que o Brasil entrou em um novo patamar histórico", diz o secretário executivo do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento, José Otávio Carneiro. "As taxas de crescimento podem não continuar em dois dígitos, mas entramos em uma nova fase".

Só a Votorantim está investindo R$ 3,2 bilhões em expansão de suas unidades já existentes e na construção de novas fábricas, divididos em dois pacotes anunciados em 2007 e neste ano. Na sua cola, porém em escala bastante inferior, estão quase todas as fabricantes do setor. Até o momento Holcim, Cimpor, Itambé e Camargo Corrêa já anunciaram investimentos que superam a casa dos R$ 2 bilhões. Empresas de menor porte, em várias regiões do país, também investem para elevar a capacidade de produção.

Em todos os casos, essas empresas estão aplicando os recursos para ampliar a capacidade de unidades já instaladas (algumas desativadas nos anos de crise) e construindo novas fábricas em diferente regiões do país para atender uma demanda que tem se espalhado por todo o país de forma quase homogênea. Por conta disso, as companhias também passaram a investir mais em logística.

Já este ano o mercado brasileiro vai atingir nova marca histórica de consumo de cimento, com 50 milhões de toneladas. Desde que a primeira fábrica do insumo foi instalada no país, ainda de forma artesanal, na Paraíba, em 1888, nunca se usou tanto cimento no Brasil como agora. A estimativa é de que este ano o consumo per capta chegue a casa dos 260 quilos. Nem durante os anos do milagre econômico, quando obras faraônicas pipocaram Brasil a fora, o setor produziu tanto.