Título: Novas disputas podem ajudar a reduzir perda
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2008, Brasil, p. A6

O Brasil "perde ou deixa de ganhar" exportações por causa do colapso da Rodada Doha e terá de acionar mais a OMC para abrir disputas e buscar mercados importantes para fazer acordos bilaterais. Esse foi o aviso do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, um dia após o fiasco da negociação global de liberalização comercial. Analistas sempre consideraram que o Brasil seria o maior ganhador na negociação agrícola, e a China na área industrial, com a India obtendo algo no setor de serviços.

Amorim considerou remota a possibilidade de se voltar a negociar seriamente Doha ainda este ano, estimando que só dentro de uns três anos é que a negociação poderá ser retomada. Nesse cenário, com crescimento econômico global em desaceleração, comércio mundial declinando e provável aumento de protecionismo, o Brasil vai se preparar para novos contenciosos para manter abertos os mercados para suas exportações.

"Vamos ter que continuar buscando o órgão de solução de controvérsias, sobretudo porque existem subsídios (dos Estados Unidos)", disse Amorim. O grande perigo, na visão brasileira, é a Farm Bill, a lei agrícola pela qual os EUA poderão gastar US$ 289 bilhões em ajuda aos agricultores nos próximos cinco anos. "A Farm Bill tem possibilidades de agravar os subsídios, inclusive nos gatilhos mais baixos para ajudar produtores."

O ministro disse que, se os EUA quiserem retomar a rodada, deveriam aceitar um acordo de não piorar o acesso que já existe hoje. Mas reconheceu os limites disso, com a necessidade de envolvimento político de alto nível num contexto pouco favorável. Já a Política Agrícola Comum (PAC), da União Européia, continuará sendo reformada e o Brasil espera daí menos problemas.

Na avaliação do ministro, "felizmente" o Brasil, como país grande, tem capacidade de buscar alternativas e abrir mercados tanto entre os industrializados como entre os em desenvolvimento, o que está longe de ser o caso da maioria dos membros da OMC.

Ele vê possibilidades na negociação Mercosul-União Européia, aumento do comércio com a Índia, África do Sul e outros emergentes. "Por que não um acordo de soja com a Índia?", exemplificou. Já autoridades indianas reclamaram que faz três anos que Brasil e Argentina não conseguem aprovar no Congresso um acordo feito pelo país com o bloco do Cone Sul. Um negociador sul-americano retrucou: "A Índia já destruiu duas negociações este ano, a Sul-Sul (na Unctad) e na OMC, e agora vem reclamar?"

No caso do México, o problema para ampliar o acordo bilateral é que houve uma inversão nas posições. Há três anos, segundo Amorim, o Brasil era mais defensivo. Agora é o México, em meio à alta da inflação provocada pela crise de alimentos.