Título: Lamy, o último a aceitar o colapso da Rodada Doha
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Fonte: Valor Econômico, 31/07/2008, Brasil, p. A6
Pascal Lamy quase caiu no choro por duas vezes, quando reconheceu o colapso de Doha diante de um grupo de ministros. O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) quase desistiu em alguns momentos de continuar as discussões, diante da intransigência de Índia e EUA, mas também foi o último a aceitar desligar a tomada da rodada.
Ontem, após o fiasco, as opiniões eram quase unânimes de que a rodada só chegou até aqui pelo empenho do ex-comissário europeu de Comércio. Os principais negociadores elogiaram publicamente a postura de Lamy.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, rechaçou especulações de que deseja o cargo de diretor-geral, dizendo preferir continuar como ministro até que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o queira. Disse que o Brasil apóia a renovação do mandato de Lamy para mais quatro anos.
"Lamy é honesto, sério e competente e ouve os países em desenvolvimento", disse Amorim, dando uma série de exemplos em que as intervenções do Brasil foram acolhidas pelo diretor-geral e evitaram o pior na rodada.
No primeiro dia pós-colapso de Doha, mil histórias circulavam nos corredores da OMC sobre comportamentos de negociadores, sem segunda confirmação. Os principais personagens se esmeraram nas encenações. O ministro de Comércio da Índia, Kamal Nath, se declarou "triste" pelo fiasco. Depois, disse que tinha convidado a americana Susan Schwab, com que se defrontou o tempo todo, para almoçar. Schwab arregalou os olhos de espanto quando soube do convite e, visivelmente, preferia repousar.
Antes, porém, ela encontrou Amorim e o presenteou com um disco de jazz de um grupo americano. Nenhum dos principais ministros participou do Comitê de Negociações Comerciais, órgão máximo da rodada, para evitar lavagem de roupa suja diante dos outros membros. (AM)