Título: Réu no STF, Jucá mantém liderança do governo
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2008, Política, p. A9

O presidente Lula não pretende indicar outro líder do governo no Senado após a denúncia contra o senador Romero Jucá (PMDB-RR) feita pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, junto ao Supremo Tribunal Federal. Assessores e ministros lembraram que não é tradição do presidente pedir o afastamento de integrantes do governo diante de pressões ou constrangimentos externos. Pesa a favor de Jucá, ainda, o fato de ele não ser mais ministro. "No Parlamento, o constrangimento é mais difuso", confirmou um ministro da Presidência..

Ao longo do dia de ontem, Lula não demonstrou a pessoas mais próximas disposição de afastar Jucá do cargo. No ano passado, o presidente Lula perdeu dois ministros que respondem processo atualmente no Supremo Tribunal. Em plenas negociações para aprovação da CPMF no Senado, o então ministro da coordenação política, Walfrido dos Mares Guia, foi denunciado como operador do mensalão mineiro. No mesmo dia, ele entregou o cargo afirmando que não desejava "causar constrangimentos ao governo".

Meses antes, o então ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, foi incluído num inquérito da Polícia Federal sob a acusação de receber propina da construtora Gautama. Lula esperou para ver se o Ministério Público denunciaria ou não o ex-ministro, mas, pressionado pelo PMDB e pela necessidade de acabar com a interinidade em uma pasta tão delicada, acabou nomeando Edison Lobão para o cargo.

Ninguém no governo acredita que Jucá vá pedir afastamento da liderança, até porque esta denúncia do Procurador é antiga.

A denúncia contra Jucá foi feita em dezembro de 2007 e não foi divulgada ao público porque as investigações estavam sob sigilo. Formalmente, Antonio Fernando não comenta o caso, alegando segredo de Justiça. O senador foi denunciado por crime contra o Sistema Financeiro Nacional. Ele teria obtido um empréstimo fraudulento junto ao Banco da Amazônia (Basa) para a empresa Frangonorte, da qual era sócio. O empréstimo foi obtido em 1996, ao valor de R$ 3,1 milhões.

O STF abriu inquérito contra Jucá para apurar as denúncias envolvendo a Frangonorte em maio de 2005. Na época, ele era ministro da Previdência. O pedido de abertura de inquérito foi feito pelo então procurador-geral, Cláudio Fonteles. O inquérito enfraqueceu a posição de Jucá na Previdência e ele acabou deixando a pasta.