Título: Cortes de poluição e trânsito afetam negócios na China
Autor: McDonald , Joe
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2008, Internacional, p. A12

Paralisações de fábricas e outras restrições industriais com o objetivo de contribuir para uma redução da poluição em Pequim, durante os Jogos Olímpicos, estão tornando a vida mais complicada, e mais cara, para as empresas chinesas de aço, produtos farmacêuticos e de outros produtos e serviços.

O impacto financeiro das transtornos é difícil de estimar, e as exportações da China não deverão ser muito afetadas, porque os fornecedores tiveram meses para se preparar, dizem analistas e representantes das empresas.

De todo modo, os fabricantes tiveram gastos extras para produzir e armazenar estoques em antecipação aos Jogos, ou para providenciar transporte especial. Esses custos se somam aos US$ 40 bilhões que o governo está gastando em instalações olímpicas e em melhorias na infra-estrutura de Pequim.

Empresas em toda a China estão ainda atordoadas com a decisão governamental de endurecer a segurança, dificultando a concessão de vistos de negócios e turismo.

Com isso, hotéis sofisticados, muitos dos quais foram alvo de dispendiosas reformas para as olimpíadas, operaram com metade de sua ocupação nos últimos três meses. Executivos do setor hoteleiro dizem tratar-se da pior queda na demanda desde o último grande surto de pneumonia.

"Está quase tão ruim quanto em 2003, quando houve o surto de sars (síndrome respiratória aguda grave)", disse Matthew Lin, diretor da Bravo Tours China em Xangai. Segundo ele, os negócios registram queda de 30%. "Muitos estrangeiros cancelaram suas viagens ou não apareceram".

Tendo recebido ordem de paralisar a operação de seus altos-fornos para ajudar a limpar o ar para os 10,5 mil atletas e 500 mil turistas esperados para os jogos, a siderúrgica Beijing Shougang Group embarcou num enorme esforço para assegurar que seus clientes que não seriam afetados. A empresa, fornecedora vital para a construção civil chinesa, setor em crescimento acelerado, incrementou a produção no primeiro semestre do ano para poder atender pedidos durante a paralisação, e transferiu parte de sua produção para uma unidade fora de Pequim.

Depois dos Jogos e da Paraolimpíada, em fins de setembro, a Shougang intensificará sua produção no trimestre final, disse um gerente que pediu anonimato porque não está autorizado a falar a repórteres. Oficialmente a Shougang não comenta seus planos.

Comerciantes e fabricantes de Pequim sofrerão com as regras que proíbem caminhões de trafegar na capital chinesa, tornando as entregas mais caras ou impossíveis. Eles terão de reduzir suas operações ou pagar substancialmente mais para transportar mercadorias em furgões. A cidade já proibiu 300 mil furgões mais velhos e outros veículos de trafegar desde 1º de julho.

Embora a Daimler possa continuar produzindo sedãs Mercedes na fábrica de Pequim, pois suas emissões de poluentes estão abaixo do limite determinado pelo governo, a direção está preocupada com o recebimento de componentes de fornecedores, disse o porta-voz Trevor Hale. "Tentamos certificar que nossos provedores de logística tenham caminhões ´verdes´, mas temos de ser flexíveis", disse. "Estamos com um pouco mais de estoques, por via das dúvidas".

Os controles também estão perturbando setores de menor visibilidade, como o farmacêutico, no qual a China é importante fornecedora de insumos, como a penicilina, usados por fabricantes de medicamentos vendidos nos EUA, Europa e outras regiões do mundo.

"O fornecimento de alguns insumos foi efetivamente afetado por restrições durante os Jogos Olímpicos", disse Xu Xiaofang, porta-voz do GlaxoSmithKline China. "Como fomos informados antes sobre as restrições, armazenamos estoques adequados". Ele não quis revelar quais insumos a GlaxoSmithKline adquire em Pequim nem qual foi o custo extra.

O controle de poluição exigirá que mais de 150 indústrias nos setores siderúrgico, petroquímico e outros suspendam a produção durante os jogos, disse a agência oficial de notícias Xinhua, citando Zheng Jiang, vice-presidente do birô de meio ambiente em Pequim.

A interrupção da produção de aço deve ter pouco efeito sobre o comércio exterior, já que a maior parte da produção de Pequim se destina à construção civil, disse Linda Lin, analista do Metal Bulletin, newsletter do setor. Segundo ela, só 15% da produção de aço chinesa foi exportada em 2007.

"Julho e agosto são a baixa temporada de demanda por aço. E o mercado no norte da China não está conseguindo digerir todo o estoque acumulado", disse Lin.

Algumas mudanças de última hora vieram sem aviso prévio.

Empresas estrangeiras queixaram-se do aperto na concessão de vistos de negócios, depois da suspensão, em março, a emissão de vistos válidos para várias entradas. Serão mais afetados empresários estrangeiros de Hong Kong que precisam visitar fornecedores de artigos do vestuário, brinquedos e móveis na China continental.

"Essas restrições criam sérios problemas para quem opera na China", disse a Câmara de Comércio Européia na China em nota.

A Bravo Tours China, de Xangai, aproveitará a calmaria para treinamento de pessoal, à espera da retomada dos negócios após os jogos.