Título: Dicico entra no mercado de TI com a Constru Software
Autor: Borges , André
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2008, Empresas, p. B3
Tijolo, cimento e software. Tudo indica que a rede de lojas de material de construção Dicico resolveu levar às últimas conseqüências aquilo que pode ser entendido como diversificação de produtos. Desde janeiro está em operação, ainda que discretamente, a Constru Software, empresa especializada em desenvolvimento e integração de sistemas para o setor de varejo. É isso mesmo. Agora, além de vender materiais de construção, a Dicico quer ganhar o mercado de tecnologia da informação (TI).
A estréia da Constru Software tem a chancela da fabricante de sistemas de gestão empresarial SAP. Com a parceria, a empresa vai integrar ao produto da fornecedora alemã uma série de sistemas próprios, criados para ajudar no dia-a-dia das redes varejistas.
O primeiro cliente é a própria Dicico. Em maio, a rede varejista decidiu trocar os sistemas da fornecedora Gemco pelos da SAP. O novo projeto custará à empresa R$ 10 milhões. Uma parte desse investimento será usado para pagar as licenças de software da SAP, a outra ajudará a assentar os primeiros passos da Constru Software.
A idéia de ganhar dinheiro vendendo tecnologia ganhou força no fim do ano passado, quando a Dicico trabalhava pesado no desenvolvimento de sistemas próprios porque, segundo Dimitrios Markakis, presidente da rede, simplesmente não conseguia encontrar, entre os grandes fornecedores de TI, as tecnologias que ajudassem a empresa a aprimorar funções operacionais das lojas. "Chegamos a ser procurados por outras redes de varejo interessadas em nossos sistemas, mas na época não abrimos nada", comenta. "Depois decidimos estudar a fundo esse mercado e vimos que havia um buraco de tecnologia no varejo, uma enorme oportunidade."
Com planos na cabeça, Markakis chamou para um café um amigo antigo, Álvaro Farana, então diretor de TI da rede Wal-Mart no Brasil. Os dois eram conhecidos desde o início dos anos 90, quando Farana cuidava da informática dos hipermercados Cândia, negócio que Markakis venderia para o grupo Sonae em 1998. "Analisei o convite durante alguns meses, até que em janeiro desse ano deixei o Wal-Mart para tocarmos a Constru Software."
A empresa, que iniciou operações com 30 funcionários, já está com 50 profissionais. A partir da implantação na Dicico, a Constru Software quer prestar serviços para outras redes de varejo, inclusive de outros setores que não o de construção civil. "Padarias, postos de gasolina, lojas de roupas, vamos entrar também nesses mercados", diz Farana.
A Dicico, diz Dimitrios Markakis, tem hoje uma rede de 250 varejistas associados, pequenos negócios que se abastecem com material da empresa. Essa carteira deve ser o primeiro alvo para venda do que a empresa batizou de Programa de Administração, Construção e Decoração (PAC), seu pacote de software que será integrado aos sistemas da SAP. "Outras redes de varejo já começaram a nos procurar", comenta Álvaro Farana. "Temos pré-acordos com grandes de varejo, inclusive concorrentes da Dicico."
A companhia de tecnologia que a rede varejista está empenhada em construir tem metas nada tímidas. Até o fim de 2009, os executivos da Constru Decor querem faturar R$ 40 milhões. A taxa de crescimento projetada é de 40% ao ano.
Com sua investida no mercado de TI, a Dicico segue um caminho já trilhado por muitas companhias que, depois de gastarem fortunas com informática, decidiram fazer desse departamento uma empresa independente, apostando na idéia de que o tradicional centro de custos pode ser convertido em um negócio lucrativo.
Em muitos casos, deu certo. Tome-se como exemplo multinacionais como a Volkswagen, com a criação da Gedas, vendida em 2005 para T-System. O mesmo fez a General Motors, com a EDS (comprada por US$ 13,9 bilhões pela HP) e a Philips, de onde brotou a Atos Origin, que hoje cuida dos sistemas dos Jogos Olímpicos de Pequim. No Brasil, o setor que mais aposta na estratégia é o financeiro. É o caso de bancos como Bradesco, Banco do Brasil e Itaú, que controlam a Scopus, a Cobra Tecnologia e a Itautec, respectivamente.
Segundo Dimitrios Markakis, o investimento da Dicico em tecnologia é conseqüência natural da trajetória que a companhia pretende seguir. Até 2010, diz o executivo, a rede de materiais de construção quer abrir o capital na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). "Adotar um sistema de gestão é um passo fundamental para isso."
Fundada há 90 anos por Virgílio Di Cicco - jovem que desembarcou no porto de Santos em 1908, para ser assistente de cozinheiro nas obras da ferrovia Sorocabana - a Dicico deve faturar R$ 727 milhões neste ano, resultado 60% superior ao de 2007.
No ano passado, a rede investiu R$ 29 milhões na abertura de 13 unidades, atingindo um total de 31 lojas. Neste ano a idéia é injetar R$ 65 milhões na inauguração de 26 novos endereços, o que equivale a abrir uma nova loja a cada 20 dias, aproximadamente. Daqui a dois anos, diz Markakis, a companhia chegará ao faturamento de R$ 1,5 bilhão. Sem somar aqui o faturamento de seu novo negócio no mercado de TI.