Título: Rio Tinto negocia com a Cosipa contrato de venda de longo prazo
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2008, Empresas, p. B6
A Rio Tinto Brasil, subsidiária da mineradora anglo-australiana Rio Tinto, está negociando um contrato de longo prazo para fornecimento de minério de ferro para a Cia. Siderúrgica Paulista (Cosipa), num prazo de cinco a 10 anos a partir de 2009. A estratégia de expansão da produção de minério da mina de Corumbá, anunciada ontem, para produzir 12,8 milhões de toneladas até 2010, é crescer as vendas de minério para o exterior e para o mercado interno. Hoje, a Cosipa é suprida por minério da Vale e de Casa de Pedra e, em 2009, vai receber minério da J. Mendes.
O acordo entre a Rio Tinto e a Cosipa, que pode ser fechado até o fim do ano, prevê a venda de 500 mil toneladas anuais de minério do tipo "lump", produto especial cada vez mais raro no Brasil, que custa 80% a 90% do preço da pelota, algo como US$ 140 a tonelada/FOB. Este calculo preliminar permite prever que a mineradora pode faturar entre US$ 60 e US$ 70 milhões por ano, caso feche o negócio com a usina paulista. A Cosipa, porém, não confirma a negociação, segundo a assessoria da Usiminas, que é controladora da empresa.
Aloisio de Pinho Oliveira, diretor financeiro e de recursos humanos da Rio Tinto Brasil , disse que além de negociar com a Cosipa - que tem produção de 4,5 milhões de toneladas de aço ao ano - , mineradora anglo-australiana está acertando contratos de longo prazo com mais 10 clientes estrangeiros, a maioria do Oriente Médio. Leonardo Macedo, gerente geral comercial e de marketing da subsidiária adiantou que já foi fechado um grande contrato com uma siderúrgica da região, cujo nome não quis mencionar, e um outro está em fase final de negociação.
Macedo avalia que das 12,8 milhões de toneladas de minério de ferro a serem produzidas em 2010, 7,5 milhões a 8,5 milhões serão exportadas para siderúrgicas que usam o processo de redução direta em alto-forno a gás, como é o caso das usinas do Oriente Médio, principalmente dos Emirados Árabes Unidos e da Arábia Saudita, onde o gás é barato. "O restante vai para o mercado interno e para usinas da América do Sul, como a Siderar argentina e plantas de redução direta da América Central".
A aproximação com a Cosipa começou em 2007, quando foi feito uma venda-teste de 33 mil toneladas de minério "lump" para a siderúrgica paulista. Esta primeira carga visava principalmente testar a logística da Rio Tinto Brasil, bastante complexa. Para o minério chegar em Cubatão, na baixada santista, onde fica a usina da Cosipa, ele foi transportado desde Corumbá (MS), sede da mina, por rio e mar, passando por cinco países. Foram percorridos 2,5 mil quilômetros da hidrovia Paraguai-Paraná, com transbordo para navio de bandeira brasileira no porto de San Nicolas, na Argentina, onde seguiu por mar até o porto da Cosipa, em Cubatão. O sistema foi aprovado pela usina paulista. Este ano, foi negociado entre as duas empresas um suprimento entre 200 mil a 500 mil toneladas de minério, porém, com transporte por caminhões.
Nas negociações do contrato de longo prazo está previsto o transporte pela logística fluvial da subsidiária brasileira. Mas isso não impede a Rio Tinto de negociar com a concessionária de ferrovias ALL, dona da linha que vai de Corumbá a Baurú e daí até Santos e Cubatão em outros trilhos. A idéia é buscar um esquema de transporte multimodal no futuro, informou Macedo.
Aloisio Oliveira disse, durante entrevista sobre os novos planos do grupo no Brasil, que do investimento total de US$ 2,15 bilhões para expansão da produção de minério no Brasil, US$ 1,7 bilhão serão usados para a logística da empresa. "Nosso desafio, neste projeto, é a logística para transportar mais de 10 milhões de toneladas de minério. Hoje, produzimos 2 milhões", disse o executivo. Segundo ele, US$ 450 milhões serão aplicados na expansão da mina e instalação de uma correia de 29 quilômetros para conduzir o minério até um novo terminal portuário em Corumbá.
A maior parte do dinheiro irá para construção de dois novos portos e equipamentos de navegação. A Rio Tinto Brasil vai operar com mais 16 comboios de barcaças e barcos empurradores até 2010. Atualmente, são 20 de barcaças e 10 de empurradores. "Vamos encomendar 246 novas barcaças e 16 barcos empurradores em vários estaleiros, inclusive no Brasil. Cada comboio transportará 40 mil toneladas".
Para atender esse projeto, a empresa vai construir dois novos portos. O de Albuquerque, em Corumbá, com capacidade de 10 milhões de toneladas de minério e o de La Agraciada, no Uruguai, na foz do Rio da Prata, disse José Luiz Carvalho, diretor de operações da subsidiária. No esquema atual, o embarque do minério é feito pelo porto de Gregório Curvo e descarregado no porto argentino de San Nicolas, que não movimenta mais que 2 milhões de toneladas. Na nova logística, o produto descarregado no Uruguai sairá para o mar por operação de transbordo para navios transoceânicos com destino a Europa e Oriente Médio.