Título: País pode atrair fundos para inovação, diz americana
Autor: Landim , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2008, Brasil, p. A4

Deborah Wince-Smith, do Conselho de Competitividade dos EUA: universidades precisam se aproximar do mercado O Brasil começa a atrair capital de risco para financiar empresas inovadoras por conta do bom desempenho da economia. Mas ainda falta uma mudança cultural. A elite tem que se arriscar e apostar em inovação. Além disso, as universidades devem se aproximar do mercado, para agregar valor às suas descobertas.

A avaliação é de Deborah Wince-Smith, presidente do Conselho de Competitividade dos Estados Unidos, órgão que reúne 180 membros, entre presidentes de multinacionais, reitores de universidades e sindicatos. Ela visitou o país na semana passada e se reuniu com empresários, com os ministros Miguel Jorge, do Desenvolvimento, e Sérgio Rezende, da Ciência e Tecnologia, e com as Forças Armadas.

"Conheço quatro fundos de venture capital americanos que passam bastante tempo aqui, investindo em energia e sustentabilidade. Eles estão colocando dinheiro e know-how administrativo em estágios bem iniciais", contou Wince-Smith ao Valor. "Esses fundos enxergam o Brasil como uma oportunidade".

A executiva ressaltou, no entanto, que o país precisa de uma mudança de mentalidade. "Existe muita riqueza no Brasil, mas se as pessoas acreditam que vão conseguir mais retorno em blue chips ou bônus, ao invés de investir na criatividade e no conhecimento das suas universidades, isso não é bom para o país", disse.

Para Wince-Smith, há um "divórcio" entre a pesquisa na universidade e o reconhecimento do potencial econômico no Brasil. Ela reforçou que o país possui um número muito reduzido de patentes e aproveitou para repetir o antigo apelo dos EUA para que o Brasil reforce o respeito à propriedade intelectual.

A executiva, que integra o conselho da bolsa eletrônica Nasdaq, disse que a confiança dos investidores é conseqüência da saúde da economia, graças ao controle da inflação e à conquista do grau de investimento. Ela apontou o desenvolvimento do mercado de capitais e os investimentos em etanol como os aspectos mais interessantes de sua visita.

A vinda de Wince-Smith ao Brasil é parte do esforço de aproximação dos dois países em inovação. Em julho do ano passado, foi realizado em Brasília o primeiro Fórum de Inovação Brasil-Estados Unidos. O próximo deve ocorrer em novembro de 2009, em Washington.

Wince-Smith disse que os Estados Unidos enfrentam um momento complicado com a crise financeira. "Não fizemos um bom trabalho no nosso ambiente regulatório", reconheceu a executiva. "As hipotecas subprime e a alta do preço do petróleo criaram uma tempestade".

O conselho de competitividade dos EUA de foi criado há 22 anos. Naquela época, o país debatia a concorrência com a inovação tecnológica do Japão. A discussão hoje, disse Wince-Smith, é a competição com países emergentes como a China e o segredo está em liderar a inovação e garantir postos de trabalho altamente qualificados. Ela disse que não está preocupada com a aquisição de companhias americanas por estrangeiros, como a compra da Anheuser-Busch pela belgo-brasileira Inbev. "É parte do jogo global", disse.