Título: Fundos de emergentes captam, mas Brasil perde
Autor: Campos , Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2008, EU & Investimentos, p. D2

Depois de seis semanas consecutivas de perda, os fundos de ações de mercados emergentes voltaram a captar recursos na semana encerrada dia 23. Mas o Brasil ficou fora da recuperação. Segundo a consultoria EPFR Global, os fundos dedicados ao país tiveram perda de aplicações de US$ 12,17 milhões durante a semana encerrada em 23 de julho. Com isso, o valor total do portfólio de fundos acompanhados pela consultoria com investimentos no Brasil fechou o período em US$ 14,32 bilhões. No começo do mês, a cifra era de US$ 15,79 bilhões.

De acordo com a consultoria, que acompanha fundos com mais de US$ 10 trilhões em ativos, a queda no preço do petróleo e a recuperação do dólar deixaram investidores com um pouco mais de apetite por risco.

Por essa razão, a categoria emergentes voltou a captar. Mas o desempenho foi bastante influenciado pelo grupo Ásia (excluindo Japão), que não via dinheiro novo desde meados de maio, e pela forte captação dos diversificados fundos globais de mercados emergentes, que receberam US$ 1,37 bilhão na semana, maior fluxo desde o começo de dezembro. Os grupos América Latina e Emergentes do Oriente Médio e África (EMEA, na sigla em inglês) continuaram perdendo recursos.

Os fundos dedicados ao chamado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) amargaram a sexta semana seguida de perda, mas dois dos países que compõem o bloco tiveram desempenho positivo: Índia e China.

Com os investidores menos retraídos, não foi surpresa que os fundos de perfil mais conservador apresentassem perdas na semana. Os money market funds, (que buscam ganhos com investimentos de curto prazo e baixo risco) tiveram saques de US$ 3,08 bilhões, e os fundos globais de bônus perderam US$ 151 milhões.

A busca por mercados mais dinâmicos também influenciou os fundos de ações dos Estados Unidos, que perderam US$ 9,55 bilhões na semana, apesar do desempenho positivo do mercado local. Segundo a EPFR Global, a categoria já perdeu US$ 62 bilhões desde o começo de 2008. O montante representa quase 10 vezes o total sacado durante todo o ano de 2007.

A queda no preço do petróleo e a crença de que o pior já passou para o setor financeiro beneficiaram os fundos de ações da Europa, que registraram captação pela primeira vez em nove semanas. A EPFR Global também constatou que os fundos de ações da França tiveram seu melhor desempenho em 18 semanas depois que o presidente Nicholas Sarkozy acenou com uma agenda de reformas.

Mais uma vez, o Japão foi na contramão do restante do mundo, com sinais de inflação no maior nível em 10 anos chamando recursos para investimentos em ações. A visão dos investidores é de que, com alta de preço, a montanha de dinheiro que está parada em produtos de baixo risco terá que ir para a bolsa atrás de melhores rendimentos.

Na avaliação setorial, o segmento de Saúde e Biotecnologia ganhou dinheiro novo, assim como os fundos de Energia e de Tecnologia. Os fundos voltados para Finanças foram alvo de realização de lucros, perdendo US$ 517 milhões, após a divulgação de resultados de grandes conglomerados globais.