Título: Brasil
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 29/07/2008, Brasil, p. A2
O mercado financeiro reagiu negativamente ontem aos números da pesquisa Focus, que coleta as expectativas inflacionárias dos analistas econômicos, com forte alta nos juros futuros. Mas, se os números forem lidos pelos critérios adotados pelo Banco Central para acompanhar as expectativas de mercado, não é possível identificar um quadro de descontrole inflacionário.
Do conjunto de números divulgados pelo BC, o que registrou piora foi a expectativa para 2008 colhida entre os cerca de 100 analistas econômicos consultados na pesquisa semanal. A inflação projetada pelo mercado para 2008 passou de 6,53% para 6,58%. Em qualquer caso, está acima da meta de inflação definida pelo Conselho Monetário nacional (CMN) para o período.
O BC, porém, tem alertado nos últimos dias em seus pronunciamentos oficiais que trabalha para fazer a inflação convergir para o centro da meta, de 4,5%, em 2009. E tem lembrado que, dadas as defasagens da política monetária, as altas de juros feitas agora chegam à inflação apenas com cerca de nove meses de defasagem. Ou seja: mesmo que quisesse, o BC pouco poderia fazer para trazer a inflação para o centro da meta em 2008. O melhor que pode ser feito é buscar a menor inflação possível em 2008, disse recentemente em pronunciamento oficial o presidente do BC, Henrique Meirelles.
O alvo da política monetária é a inflação de 2009, que, pela segunda semana seguida ficou estável em 5%. Ainda está acima do centro da meta de inflação, de 4,5%, o que, para o BC, está longe do ideal. A preocupação com a evolução das expectativas de inflação foi um dos fatores que levaram o BC a acelerar, em reunião na semana passada, o ritmo de aperto monetário.
De qualquer forma, contudo, a estabilidade das expectativas medianas em 5% já é uma indicação de que a tendência de deterioração das expectativas pode ter chegado ao fim, depois de cinco semanas seguidas de alta. Parar de piorar é o primeiro passo para que, em seguida, possa começar a melhorar, voltando a convergir para o centro da meta.
Além dos dados divulgados no boletim Focus, o BC também divulgou dados estatísticos complementares sobre as expectativas de mercados na sua página na internet, na seção de "séries temporais". Nesse conjunto de dados, constata-se que a média das projeções subiu de 4,89% para 4,93% em uma semana. Houve piora, mais a média das projeções está abaixo da mediana, que continua em 5%.
O conjunto de dados divulgados ontem, porém, ainda é pouco para medir a tendência definitiva das expectativas de mercado daqui por diante - seja para o bem ou para o mal. Serão necessárias mais observações para conferir se as expectativas vão de fato convergir para a meta. O mercado é naturalmente lento para revisar as suas projeções de inflação, e os dados econômicos mais recentes, incluindo a aceleração do aperto monetário, não estão totalmente incorporados.
Na semana que vem, o BC deverá divulgar a dispersão das expectativas de inflação. Esse é outro indicador antecedente das expectativas de inflação, que, nos meses passados, sinalizou com alguma clareza que as projeções de mercado estavam se tornando cada vez piores.