Título: Terceiro leilão de 'bois piratas', e nada
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 29/07/2008, Agronegócios, p. B14

A terceira tentativa do governo de leiloar as três mil cabeças de boi apreendidas em áreas desmatadas da Amazônia terminou como as outras: sem compradores.

Desta vez, uma liminar concedida no sábado à tarde pelo desembargador Olindo Menezes, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª região, estaria por trás da falta de interesse. O órgão julgou improcedente o deságio de quase 60% no preço mínimo proposto pelo governo. Segundo o desembargador, o gado estaria abaixo do preço de mercado. Nas duas tentativas anteriores, o piso exigido pelo rebanho teria desencorajado interessados, que têm de arcar ainda com os custos de transportes dos animais no Pará.

De acordo com Flávio Montiel, diretor de Proteção Ambiental do Ibama, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) recebeu o comunicado apenas dois minutos antes do início do leilão. Segundo ele, havia três compradores inscritos no leilão: um de Minas Gerais, outro do Rio e um terceiro de São Paulo. "Quando souberam da decisão, não fizeram lances", afirmou Montiel.

O governo afirma que irá recorrer da decisão e tentar fazer valer o preço de R$ 1.445.153,40, uma redução de 60% em relação aos R$ 3,151 bilhões anteriormente estipulados. Caso a Justiça não ceda, o governo "repensará o que fazer", disse o diretor. O próximo leilão tem data inicial marcada para terça-feira, dia 5.

Montiel negou informações veiculadas sobre mortes de alguns animais apreendidos por falta de alimentos. O diretor do Ibama afirmou que dois possíveis compradores foram no fim de semana à propriedade no município de São Félix do Xingu, no Pará, onde o rebanho é mantido, e constataram o "ótimo" estado dos animais. Reiterou que eles estão vacinados e que foi montado um forte esquema de segurança.

Na semana passada, o deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA) afirmou que o Ibama não está tratando corretamente as mais de 3 mil cabeças de gado apreendidas na Operação "Boi Pirata", realizada há mais de um mês. Segundo ele, há apenas uma pessoa para cuidar de todo o rebanho.

Ontem, foi a vez do secretário de Agricultura de São Félix do Xingu fazer declaração de mesmo teor. Marcos Aurélio Prudente Pereira afirmou que os primeiros números ainda não oficiais, mas estimam morte de pelo menos 60 animais. O rebanho estaria confinado em uma área de 20 hectares, sem pasto suficiente.