Título: Déficit já alcança US$ 17,402 bilhões
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 29/07/2008, Finanças, p. C1

O déficit em conta corrente somou US$ 17,402 bilhões no primeiro semestre, ou 2,51% do Produto Interno Bruto (PIB), colocando em xeque as projeções do Banco Central, que espera um resultado negativo de 1,49% do PIB ao longo deste ano. O déficit em conta corrente acumulado em 12 meses chegou a 1,32% do PIB em junho, o percentual mais alto observado desde janeiro de 2003.

Entre o primeiro semestre de 2007 e de 2008, houve virada de US$ 19,815 bilhões nas contas correntes, que saíram de superávit de US$ 2,413 bilhões para um déficit de US$ 17,402 bilhões no período. A maior parte da piora, ou 46,7%, foi causada pela redução, de US$ 9,228 bilhões, no superávit da balança comercial, que saiu de US$ 20,107 bilhões no primeiro semestre de 2007 para US$ 11,349 bilhões em período igual deste ano. O segundo fator mais importante foram as remessas de lucro e dividendos, que respondem por 46,4% da piora. As remessas aumentaram US$ 9,186 bilhões entre um período e outro, passando de US$ 9,807 bilhões para US$ 18,993 bilhões.

O déficit em turismo internacional teve impacto negativo de 8% no aumento do déficit em conta corrente, crescendo US$ 1,575 bilhão, de US$ 1,060 bilhão para US$ 2,635 bilhões entre o primeiro semestre de 2007 e de 2008. Há fatores que contribuem para reduzir o déficit. A receita de outros serviços aumentou o equivalente a 5,7% da expansão do déficit em conta corrente, passando de US$ 2,519 bilhões para US$ 3,650 bilhões.

O déficit em junho foi de US$ 2,718 bilhões, superando as expectativas do BC, que previa US$ 1,2 bilhão, o que representaria certa acomodação em relação aos altos números negativos no início do ano. As remessas de lucros e dividendos, porém, se aceleraram nos últimos dias do mês, chegando a US$ 3,396 bilhões. O BC esperava remessas menos intensas, já que, até o dia 23 de junho, observavam-se saídas de US$ 1,260 bilhão. Para julho, a projeção do BC é um déficit em conta corrente de US$ 2,8 bilhões.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, disse que o déficit de 2,5% do PIB é moderado e está em linha com a média de 2,1% do PIB observada de 1947 a 2007. Segundo ele, países com avaliação de risco semelhantes à do Brasil têm déficits maiores, como a Colômbia (4,9% do PIB) e Croácia (8,5% do PIB).

Lopes argumenta que, hoje, a composição do déficit em conta corrente é mais benigna. Antes, afirmou, o que pesava mais no déficit em conta corrente eram os pagamentos de juros da dívida externa, que devem ser honrados mesmo quando a economia vai mal. Para este ano, os pagamentos esperados de juros somam apenas US$ 4,9 bilhões. "Os juros deixaram de ser um problema", afirmou Lopes. O que pesa mais, argumentou, são as remessas de lucros e dividendos, que caem quando a economia vai mal. "Quando não tem lucros, não tem remessas de lucros e dividendos", disse.