Título: Sobre novas bases
Autor: Capozoli , Rosângela
Fonte: Valor Econômico, 29/07/2008, Negócios Sustentáveis, p. F1

O físico e escritor austríaco Fritjof Kapra, autor de "A Ciência de Leonardo da Vinci", entre outros livros de sucesso, associa a sustentabilidade a uma rede de padrões sistêmicos que é uma visão mais quântica da realidade. Não se assuste. O que Kapra quer dizer é que todas as coisas são movidas por um plano diretor da realidade funcional, e que se você respeita esse plano diretor, tudo o mais vai funcionar. Se o ser humano é insustentável é impossível falar em sustentabilidade planetária. É com essa filosofia que o médico homeopata e consultor em sustentabilidade e saúde corporativa, Fernando Antonio Cardoso Bignardi, tem conduzido seu trabalho nos últimos anos dentro de empresas de grande porte como Casas Bahia, Gerdau, Alcoa, Caixa Econômica Federal (CEF) e Natura, entre outras.

Atingir a sustentabilidade plena, para o presidente-executivo do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Ricardo Young, está cada vez mais distante. "Só dentro de 20 anos poderemos falar em empresas sustentáveis e ainda assim apenas no varejo, que é mais rápido que a indústria, e na de distribuição de energia. Hoje não existe nenhuma empresa sustentável. Porém, as mais conscientes estão se preparando para isso e, evidentemente, o caminho da sustentabilidade revê o processo de produção além da própria gestão", reforça. Pesquisa divulgada pelo Ibope intitulada "Sustentabilidade: Hoje ou Amanhã?" respalda a afirmação de Young: executivos estão em estágios iniciais do entendimento do conceito de sustentabilidade. Dos 537 entrevistados de 381 grandes empresas nacionais, 79% deles já ouviram falar de sustentabilidade empresarial. Para eles, o tema está ligado aos conceitos de responsabilidade social (59%) e preservação do meio ambiente (58%).

Erra quem pensa que sustentabilidade é apenas sinônimo de preservação do meio ambiente e responsabilidade social, segundo Bignardi, que também é gerontólogo, psicoterapeuta, coordenador do Centro de Estudos de Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretor do Centro de Ecologia Médica "Florescer na Mata". "Tem gente que fala de sustentabilidade como uma atitude que dá prioridade à preservação dos recursos atuais para a geração futura", explica. Esse conceito é muito mais abrangente e complexo. "A doença é um indicador de insustentabilidade. Quando ela surge é um sinal de que as necessidades pessoais ou ambientais não estão sendo atendidas, portanto, o tratamento não funciona."

Partindo desse ponto de vista, o médico fez um trabalho por nove meses com 15 dos 60 executivos da Casas Bahia. O grupo, segundo ele, sofria de hipertensão arterial, obesidade e diabetes. "Esses executivos estavam interiorizando uma postura física em relação ao eixo da gravidade que indicava um estado de prontidão, ou seja, que significava 'estou pronto para sair para vender'", explica o médico. Essa tensão constante levava a péssimos hábitos de alimentação, gerando um terreno propício ao aparecimento de hipertensão arterial, diabetes e obesidade, entre outras doenças. "No final da avaliação obtivemos uma mudança fundamental nos valores metabólicos e uma melhora substancial em todos os domínios, em especial no social", relata o homeopata.

Estar vulnerável a doenças não é próprio apenas dos profissionais nos grandes centros urbanos. No caso de agricultores, uma forma de fugir das enfermidades provocadas pelo uso de agrotóxicos nas lavouras é migrar para culturas orgânicas. É o que acontece na Cooperativa de Produção Têxtil e Afins do Algodão do Estado da Paraíba (CoopNatural), sediada em Campina Grande (PA). "O que mais impulsiona o agricultor a entrar no sistema ecológico de produção de algodão é a saúde da família", afirma Maysa Motta Gadelha, diretora-presidente. Segundo ela, é comum, na região, trabalhadores contraírem câncer de pulmão por conta do agrotóxico. Além de orgânico, o algodão já nasce colorido, é cultivado sem o emprego de aditivos químicos, já que não necessita de tingimento. Nas cores rubi, marrom, verde e branco, o produto é resultado de um melhoramento genético iniciado em 1995 pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).