Título: Eike Batista estuda venda de outros ativos no Rio e Minas
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 29/07/2008, EU & S.A., p. D4
O empresário Eike Batista mal acabou de selar a venda do controle da IronX para a Anglo American e já pensa no próximo negócio. Ele anunciou em teleconferência convocada ontem para investidores que considera a possibilidade de vender o resto do Sistema Sudeste da MMX e prevê que a Anglo pode ser uma das potenciais compradoras.
Ontem, a Anglo American confirmou de Londres que vai adquirir os 63,5% das ações da IronX e pagar aproximadamente US$ 3,4 bilhões a Batista em 5 de agosto. O valor total da transação é de US$ 5,5 bilhões, com os restantes R$ 2,1 bilhões sendo destinados aos minoritários na operação de fechamento de capital da empresa, que vai contemplar uma oferta pública de ações (OPA) com direito a 100% do valor para os acionistas minoritários. No dia 1º de agosto será calculado, com base na taxa referencial de julho, o preço em reais da ação da IronX, fixado em US$ 18 por ação para vigorar na OPA. O cálculo vai informar também qual será o valor total da transação em reais.
A ação da IronX começou ontem a ser negociada na Bovespa, após cisão da MMX em duas empresas (LLX e IronX). O papel da empresa foi listado a R$ 20,91 (valor definido com base na participação de 48,1% da IronX no valor da ação da empresa na sexta-feira, de R$ 43,50).
No correr do dia, subiu e fechou em quase 28% de alta, cotado a R$ 26,61 (US$ 16,63). O valor de mercado no seu primeiro dia de pregão ficou em US$ 5,1 bilhões, cerca de 8% abaixo do valor total de venda à Anglo, de US$ 5,5 bilhões.
Para Felipe Abad, gestor de renda variável da Argúcia, o valor de fechamento da ação da IronX embute um desconto de 8% em relação ao preço de US$ 18 da OPA, indicando um temor dos investidores, mesmo que pequeno, de não ocorrer a oferta aos minoritários por conta das incertezas que ainda cercam o papel, apesar do "sinal verde" da Anglo. Mas fez questão de dizer que Batista está agindo com transparência ao disponibilizar todas as informações da investigação da Polícia Federal no Amapá para sua parceira sul-africana.
Outros analistas consideram, porém, que o fato de Batista garantir que indeniza a Anglo se perder a concessão da ferrovia do Amapá dá segurança ao mercado, mas também cria dúvida.
Durante a conferência telefônica de ontem, Paulo Gouvêa, diretor jurídico da EBX, holding que controla as empresas IronX, MMX e LLX, informou que o processo todo da oferta pública aos minoritários deve levar no máximo 90 dias a partir de 1º de agosto.
A Anglo tem 30 dias para conduzir o trâmite legal da operação na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e na Bovespa. Em geral, segundo Gouvêa, ofertas deste tipo levam mais de 60 dias para serem concluídas.
O papel da LLX Logística acompanhou o da IronX e teve alta de 23,11% no seu primeiro dia de Bovespa, fechando em R$ 4,90. Mas esta cotação foi inferior aos R$ 5,1 por ação da empresa adquirido pelo fundo canadense Ontário, que detém 15% de seu capital. O valor de abertura foi definido em R$ 3,90, baseado num percentual de 9,15% da LLX no valor do papel da MMX na sexta-feira, fixado com base no valor patrimonial da companhia.
Batista informou que vai anunciar em breve uma novidade em Porto Açu. Presume-se que seja a confirmação da instalação da siderúrgica da Techint no seu complexo industrial.
Abad, da Argúcia, avalia que os ativos da LLX são muito atraentes. São os portos de Açu, em São João da Barra (RJ), Porto Sudeste, também no litoral fluminense, e Porto Brasil, em Peruíbe (SP). O gestor da Argúcia, porém, destacou que a ação da LLX não atingiu o valor de venda do papel para o Ontário (referência de mercado) porque embute riscos ambientais e de regulação dos portos privados pelo governo. Há receio, principalmente em relação ao projeto do porto paulista, de que ele vai mesmo sair do papel.
A ação da MMX caiu 7% e fechou o pregão em R$ 17,30. O fato sinaliza temores de riscos ambientais com o sistema Corumbá, atrelados à compra de carvão para sustentar os alto-fornos de gusa da empresa de Batista.
O anúncio de uma futura venda das minas do que restou do Sistema Sudeste, da MMX, pode ajudar a elevar o preço da ação. "O ativo posto à venda é melhor 'precificado'", disse Abad.
Batista procurou tranqüilizar os acionistas da empresa durante a realização da conferência telefônica, afirmando que as investigações e questionamentos recentes sobre a atuação das controladas do grupo mostram que as instituições brasileiras funcionam.
Sem citar a operação Toque de Midas, desencadeada em 11 de julho pela Polícia Federal e que apreendeu documentos na sede da MMX e na casa do próprio Batista, o empresário lembrou que o leilão de concessão da ferrovia no Amapá, estopim da ação da PF, já foi alvo de questionamentos judiciais em duas oportunidades e afirmou que a empresa saiu vencedora em ambas. (*Valor Online)